30 de março de 2012

COMPETITIVIDADE - UM TEMA ATUAL

FAZ ESTA SEMANA UM ANO QUE ESCREVEMOS ESTE ARTIGO, em que abordamos um conjunto de exigências a que os clubes de topo, em Portugal, deveriam estar obrigados.

Resolvi agora voltar a publicar aquele escrito, no qual não foi feita nenhuma alteração, na esperança que ele possa contribuir para uma conversa sobre como o rugby português deve evoluir...



RUGBY EM PORTUGAL - OBRIGAÇÕES E COMPETITIVIDADE
(Publicado em 1 de Abril de 2011)

QUANDO SE FALA EM FALTA DE COMPETITIVIDADE COMO A CAUSA do atraso do nosso rugby em relação aos nossos mais diretos competidores, propõe-se como panacéia para todos os males, ou a redução da Divisão de Honra, ou – dependendo de quem fala ou escreve – o seu alargamento.

Hoje não vou falar dessa questão, mas antes de uma outra de que ninguém fala, mas sem a qual não há competição que nos valha, se não for cumprida.
Falo das obrigações dos clubes de primeiro plano, numa primeira abordagem, mas que darão já pistas daquelas que deverão ser as obrigações dos clubes dos escalões subsequentes.

Já falamos anteriormente das exigências que galeses e franceses fazem às suas equipas, no sentido de garantir a seriedade das competições, e com isso a atração de mais e melhores patrocinadores e apoios.

Hoje vamos avançar com uma proposta concreta de exigências a fazer aos clubes portugueses que pretendem mais e melhor competição, pois sem que essas condições sejam verificadas, toda e qualquer iniciativa não passará de mais uma palhaçada.

Como se pode pretender ter uma Divisão verdadeiramente competitiva quando alguns dos seus clubes não são capazes de manter as equipas que se dispõem a apresentar nos diversos escalões, em acção e sem faltarem aos seus compromissos?

Como se pode pretender ter uma Divisão verdadeiramente competitiva quando alguns dos seus clubes não são capazes de apresentar em tempo regulamentar as marcações dos jogos em que serão anfitriões?

Como se pode pretender ter uma Divisão verdadeiramente competitiva quando alguns dos seus clubes utilizam os mesmos jogadores em diversos escalões, sem darem a garantia de terem realmente plantéis separados para cada escalão ou categoria?

Como se pode pretender ter uma Divisão verdadeiramente competitiva quando alguns dos seus clubes não oferecem aos que pretendem assistir aos jogos, um mínimo de condições para que o possam fazer?

Como se pode pretender ter uma Divisão verdadeiramente competitiva quando alguns dos seus clubes alteram sistematicamente os horários e locais publicados para a realização dos encontros?

E por aí fora...

Querem competição, querem condições para poderem ser tão bons como os melhores?

É simples – trabalhem dentro e fora do campo, dêem condições aos jogadores, aos oficiais, aos espectadores, atraiam mais patrocinadores, mais atenção da imprensa, e recorram cada vez menos aos subsídios da Federação ou do Estado como se, pela simples razão de existirem tivessem direito a qualquer coisa!

Cumpram primeiro – exijam depois!

A lista que apresentamos não é exaustiva - nem pouco, mais ou menos - mas dá uma boa idéia do que é necessário caminhar antes de reclamarem que as competições não são competitivas...

Garantia de propriedade
O clube deve possuir o seu próprio terreno, ou prova escrita de garantia de utilização integral por um período de 5 anos a partir de Setembro de 2011 ou a partir da data da sua admissão na Divisão de Honra, a que for mais recente.

Recinto de jogo e instalações de apoio
Uma superfície plana, com piso em relva natural ou piso sintético, com os medidas determinadas pelas Leis do Jogo, devidamente marcado e com postes, que deverá ser certificada pela FPR. Vestiários e balneários com instalações sanitárias separadas para a equipa visitada e visitante, junto ao terreno de jogo.
Vestiários e balneários com instalações sanitárias separadas para os oficiais do jogo, junto ao terreno de jogo.
Parque de estacionamento numa área segura, dentro dos limites do campo, ou numa área que lhe seja imediatamente adjacente, para utilização pelos oficiais do jogo.
Área reservada às refeições das equipas e ao 3º tempo.
Acesso de ambulância à área adjacente ao campo de jogo.
Salas separadas para assistência médica e fisioterapia.

Instalações para espectadores
Todas as instalações para espectadores devem ser fechadas e cobertas.
Uma bancada será exigida, com uma capacidade de 500 pessoas, que pode ser dividida em um máximo de duas áreas.
Parque de estacionamento para 200 veículos além dos autocarros das equipas.
Instalações para deficientes, incluindo áreas de visualização, estacionamento e instalações sanitárias, o rácio das quais deverá estar em consonância com a capacidade do local. Instalações de restauração e serviço de bar para espectadores (Club House).

Instalações para treino
Acesso garantido a um campo de treino separado com vestiário/balneário e instalações sanitárias.
Acesso garantido a um ginásio.

Outras obrigações
Site do Clube atualizado regularmente, incluindo instruções de acesso ao terreno de jogo e notícias e informações relevantes sobre o clube.
Capacidade de comunicar eletronicamente entre os clubes, e entre estes e a FPR, incluindo, mas não se limitando a e-mail, telefone / fax / secretária electrónica.
Produção de um Programa do Jogo com conteúdo adequado, incluindo notícias corretas e pertinentes sobre as duas equipas, incluindo os XV’s iniciais.
Existência de um plano de gestão da segurança que inclua áreas como a segurança do público, planos de emergência e planos de acção do pessoal (Alternativamente, deverá ser elaborado um certificado de segurança para os espaços com capacidade para mais de 10.000 pessoas).
Presença de um médico qualificado ou paramédico durante a realização do encontro, e pelo menos um fisioterapeuta qualificado disponível em todos os momentos durante o jogo, para a avaliação e tratamento de lesões dos jogadores das duas equipas.
Acesso a áreas reservadas para a realização de entrevistas antes e depois do jogo pela TV, rádio e imprensa.
Sistema sonoro cobrindo toda a área do campo para a segurança e divertimento dos espectadores.
Nomeação em cada jogo de um representante do Clube, responsável desde a chegada até à partida, pela segurança, hospitalidade e integração no 3º tempo dos oficiais do jogo.
Apresentação à FPR de um árbitro ou candidato a árbitro por cada equipa obrigatória. 

Enquadramento da equipa participando na Divisão de Honra
Diretor de Rugby
Team manager
2 treinadores reconhecidos pela FPR, de nível 2 ou superior.
1 Preparador Físico (licenciado)
Médico
Fisioterapeuta
Bagageiro
Analista/Estatístico

Equipas obrigatórias para um clube poder participar na Divisão de Honra
(50 jogadores inscritos na FPR por cada equipa)
1º XV
2º XV
Sub-21
Sub-18
Sub-16
Sub-14

Depois de cumprido este primeiro passo, voltaremos a falar de competitividade...

3 comentários:

Anónimo disse...

Neste momento, para além de Agronomia, Académica e CDUL (supondo que, em relação ao estádio universitário, está garantido o pressuposto "prova escrita de garantia de utilização integral por um período de 5 anos a partir de Setembro de 2011 ou a partir da data da sua admissão na Divisão de Honra, a que for mais recente"), mais nenhum clube da Honra parece cumprir os requisitos indicados. Direito e Técnico não têm, suponho, campo de treinos, o que entre outros problemas faz com que em Monsanto o relvado seja hoje ... quase pelado. Benfica, CDUP e Belenenses estão ainda muito longe do minimamente exigível.
Sem querer ser provocador de modo gratuito, diria que, com as condições actualmente existentes, era razoável apresentar a candidatura de 3 equipas para entrar no Campeonato espanhol - que passaria a ser uma Liga Ibérica - Candidaturas: duas de Lisboa, uma do Centro/Norte. Em Espanha, creio, os clubes cumprem já estes requisitos. Faria ainda sentido que uma equipa portuguesa entrasse na Challenge Cup (Academia Super Bock ou coisa do género). Os restantes clubes seriam distribuídos por uma Divisão de Honra (12 equipas) e 1ª Divisão ( duas zonas: norte/centro e Lisboa/sul).
Daqui a dois/três anos, avaliava-se a situação e mudava-se o que havia a mudar. Um dos problemas cá é que gostamos de mudar as coisas constantemente sem fazer uma avaliação rigorosa.
É apenas uma proposta (escrita e pensada a correr...), discutível como é óbvio, mas neste momento e nas actuais condições a competitividade do rugby português é ... uma miragem!
PS: peço desculpa por fazer este comentário anonimamente, mas não estou para ser insultado por pessoas com ideias diferentes das minhas!
Somos tão poucos (jogadores, treinadores,dirigentes, jornalistas, adeptos) no rugby português que não me estou para chatear quezílias infantis...
Parabéns ao Mão de Mestre por não desistir de pensar e de ... lutar por um melhor rugby!

Anónimo disse...

SIM tudo verdade. "Só falta", tambem, termos melhores regulamentos e cumprimentos dos mesmos, ja agora com celeridade.
claro que o exemplo vem sempre de cima e se nos clubes da divisao de honra ha atropelos e situaçoes menos claras, imaginem nos outros ...

Anónimo disse...

1º tenho todo o respeito pelas ideias aqui descritas mas elas só podem ser feitas ou por total desconhecimento da realidade do desporto em Portugal e neste caso particular do rugby Português. há clubes da divisão de honra que nem dinheiro para bolas têm, fisioterapeuta é para os jogos e mesmo asim...

2º Ao anónimo da liga Ibérica, os clubes nem dinheiro têm para ir aos torneios de 7s, vão agora fazer um CI com idas quinzenais a Espanha? Mas por acaso tem ideia quanto custa uma ida a Espanha para uma equipa completa? E como é que querem obrigar jogadores amadores a de 15 em 15 dias irem passar fins de semana a Espanha longe de familia e amigos?

3º é bom não esquecer que foi essa megalomania, responsabilidade do actual Presidente e do sr Queimado do Benfica que deixou de haver uma taça Ibérica que era o melhor que podíamos acalentar, a super liga ibérica que esses senhores tanto queriam acabou por ser feita pelos espanhois entre eles e foi um nado morto, acabou ao fim da primeira época com os clubes falidos e carregados de dividas.