15 de março de 2012

A RELAÇÃO DO JOGO COM O DINHEIRO

QUE O DESPORTO NÃO CONSEGUE VIVER EM EXCLUSIVO das receitas de bilheteira, é um dado irrefutável - acontece com todos os desportos.

Ainda mais quando os responsáveis de alguns dos chamados desportos menores prescindem daquelas receitas, no intuito de chamar mais público aos espetáculos - como aconteceu em Coimbra, no Portugal-Espanha. (*)


Por isso as federações vivem essencialmente de dois tipos de receitas - as garantidas, que vem do estado na forma de subsídios, e as eventuais, com origem em empresas na forma de patrocínios.

Mas a verdade é que a subsídio-dependência trás consigo outros tipos de dependência, por vezes política, por vezes em consequência do ego inchado de certos políticos, que, tendo influência na distribuição das verbas, entendem que tem também o direito de interferir, por exemplo, com as arbitragens ou com o poder disciplinar das federações.

E se esta subsídio-dependência cheira mal, resta procurar pela outra forma de sobrevivência, os patrocínios, que exercendo embora pressões de diversa forma, são, geralmente, menos metediços no que diz respeito à gestão quotidiana dos atos federativos.

Mas que exigem, em contrapartida, uma maior visibilidade e audiência das modalidades que financiam - e aqui, o rugby português vai na cauda do pelotão.

Por isso temos insistido nestas páginas na urgente necessidade da FPR assumir uma postura mais agressiva de penetração junto ao público final, forma de levar potenciais patrocinadores a darem-nos mais atenção...

Porque aqui reside outro problema - o rugby em geral habituou-se a conseguir patrocínios junto de empresas "amigas", e que acabam por ceder ao coração e não à razão...

Agora, com a crise, esses empresas "amigas", continuando a ser amigas, estão cada vez menos disponíveis para utilizar meios financeiros em patrocínios (publicidade) que não traga retorno - como acontece com uma modalidade que não aparece na comunicação social, nas redes sociais, enfim que não se relaciona com o público, e que tendo nas suas mãos uma extraordinária arma de arremesso - os sevens - a não utiliza!

É urgente alterar este estado de coisas, e os protestos que aqui se lêem com frequência não devem ser vistos como sendo contra esta gestão federativa, mas sim a favor da visibilidade do nosso rugby, condição sine qua non para a sua sobrevivência...

Aliás a FPR apresentou este ano uma importante novidade neste aspeto - imagino as reações adversas que essa novidade tenha provocado entre os mais tradicionalistas e os menos competentes! - com o lançamento de uma página no Facebook, dedicada ao rugby feminino.

Sejamos objetivos - o rugby feminino está muito longe de ser um dos produtos federativos com maior audiência, mas a página dirigida pela nova vice presidente da federação, Alexandra Maló, é um sucesso e atinge cada dia um mais vasto auditório.

E reparem que este comentário não significa que estejamos sempre de acordo com o que é defendido, ou a forma como o é, naquela página - o que somos é, incondicionalmente favoráveis a quem tem uma visão estratégica do assunto, e luta por isso.

Vem esta crónica a propósito de uma notícia hoje veículada pela IRB que o Tokyo 7's fechou já a lista dos seus patrocinadores, tendo, a par do Governo Metropolitano de Tokyo, conseguido uma pacote de 13 companhias no apoio ao evento.

E esta pode ser, em tempos de crise, uma das vias para ajudar a resolver o problema e permitir a organização de eventos de maior dimensão - em vez de apostar num patrocínio a solo, organizar pacotes de patrocinadores que, com menor esforço financeiro, se sintam satisfeitos pelo retorno que uma verdadeira e agressiva política de informação, divulgação e marketing, lhes possa trazer.

(*)De acordo com uma informação agora recebida, parece que a não cobrança de bilhetes teria sido da Câmara Municipal de Coimbra que, tendo coberto todas as despesas, exigiu que a entrada fosse franca. Esta informação é contraditória com a que tínhamos, veículada por um dirigente da FPR, e não podíamos deixar de a deixar aqui expressa.

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