13 de junho de 2017

BRASIL VENCE E REDUZ PORTUGAL À SUA VERDADEIRA DIMENSÃO

Brasil vence Portugal por 25-21 em São Paulo no sábado 10 de Junho, e a derrota apenas surpreendeu quem anda distraído ou simplesmente não quer ver, já que a vitória do ano passado em Coimbra por 21-17 mostrava claramente que os 68-0 do primeiro encontro, em Novembro de 2013 eram águas passadas que dificilmente voltarão...

A história do rugby português mudou completamente em menos de quatro anos, e no final de 2013 ninguém acreditava que fosse possível descer tão fundo e tão depressa!
Mas os quintos lugares no Europeu de 2014 e 2015 anunciavam já aquilo que muitos fingiam não ver, e que culminou com a descida à Divisão 1 B da Europa, em 2016.


Quem assistiu ao jogo de sábado - em direto ou on demand no site da CBRu, outra banhada que os brasileiros deram a Portugal - assistiu a uma equipa portuguesa sem chama e sem imaginação, que apenas a espaços tomou as rédeas do jogo, deixando em quase toda a partida a iniciativa nas mãos do Brasil.

O resultado chegou a 21-6 para os Lobos, mas o trabalho dos brasileiros nas formações - ordenadas e espontâneas - e aos poucos também nos alinhamentos, foram dando consistência ao desenvolvimento do jogo pelas linhas atrasadas, onde os Tupis foram claramente dominadores, embora uma certa ingenuidade não tenha permitido transformar em pontos as inúmeras oportunidades de que dispuseram.

Se não é normal uma equipa que vence por 15 pontos de vantagem a 10 minutos do fim, acabar por ser derrotada, a verdade é que aqueles mesmos 15 pontos eram altamente lisonjeiros e não representavam de forma nenhuma o que se passara em campo durante os 70 minutos já decorridos, e foi com naturalidade que o Brasil deu a volta ao resultado, apenas insistindo na circulação de bola, no apoio, na força de vontade e na vontade de vencer.

Portugal não decepcionou, pois não jogou pior que contra a Bélgica, antes mostrando o mesmo rugby de terceira divisão que está ao seu alcance, a que a renovação que se diz estar a ser feita não trouxe nenhuma novidade.
Não dominámos nas formações ordenadas, fomos sistematicamente batidos no jogo no chão, e apenas nos alinhamentos conseguimos alguma vantagem que se foi perdendo ao longo do jogo, com os brasileiros a tomarem conta dessa operação também - ou seja, salvo os cerca de 25 minutos inicias do segundo tempo, quem mandou no campo foram os brasilieros, e graças a esse domínio foi uma sorte o jogo acabar ali, pois se durasse mais algum tempo, só podia dar mais Brasil e menos Portugal.

E AGORA, PORTUGAL?
O rugby português atravessa uma crise de enorme gravidade, e as medidas cosméticas que Cassiano Neves resolveu aplicar, não vão servir para nada.
Como é habitual - já ouvimos isto há tantos anos... - atiram-se as culpas para a falta de competitividade das provas nacionais, mas a verdade é que essa conversa é apenas isso: conversa da treta!

Em 2010 Amado da Silva já afirmava preferir a separação da Divisão de Honra (que tinha oito equipas) em duas divisões de seis equipas, e dizia que "só há quatro equipas mas temos que nivelar o rugby por cima e não por baixo", embora fosse "sabido, está no meu programa, que serão oito equipas".
Afinal, não foram nem oito nem duas de seis, foi uma de 10!
Ou seja, não interessa o que se vai fazer, nem interessa porque se vai fazer: o que interessa é fazer qualquer coisa a fingir que se está a resolver o problema!

Hoje, que temos mais equipas competitivas do que em 2010 (CDUL, Direito, Agronomia, Belenenses, Técnico, Cascais, para não meter a Académica nem o CDUP neste saco), Cassiano Neves quer regressar às oito equipas, em mais uma manobra de baralha e torna a dar, que ninguém está a ver!

E o que tem mais graça é que os clubes andam todos contentes porque em 2017-18 vai haver 12 equipas (as tais seis mais seis que Amado da Silva preferia em 2010!!!), esquecendo que quatro dessas vão descer em 2018-19.

O que é grave é ninguém olhar para os números, e pensar seriamente se o rugby - com o número de praticantes que existem - tem algum futuro em Portugal!

Onde estão os novos clubes? Não há...
Hoje, com os 32 clubes que terminaram os campeonatos nacionais, temos menos clubes do que tínhamos em 2007, 2008 ou em 2011, 2012, ou tantos como em 2009, 2010, 2013, 2014 e 2015.

Onde estão os novos destinos do rugby português? Não há...
Joga-se rugby adulto hoje em Portugal, em menos cidades do que se jogava em 2009 e 2010, tendo desaparecido do mapa do rugby a Lousada e Vila Real, no Norte, a Marinha Grande e Abrantes, no Centro, Oeiras, Beja, Vilamoura e Portalegre, no Sul.

Então, com esta tendência de "encolhimento" será que o problema está na falta de competitividade das duas primeiras divisões?
Reparem que em 2005 e 2010, quando as duas primeiras divisões eram compostas de oito equipas, apenas sete terminaram a 1ª Divisão, mas desde que as divisões foram aumentadas para 10 + 10 equipas, isso nunca mais aconteceu, e quem acompanha o que se passa pelo país fora, sabe muito bem que a Primeirona é hoje altamente competitiva!

Desde 2009 que defendemos nestas páginas que o rugby português precisa de crescer rapidamente sob risco de perder, ano a ano, a sua importância no mundo do desporto português.

É urgente organizar as competições? É sim, mas não as das duas primeiras divisões! O que é preciso é organizar o terceiro nível competitivo, e o rugby social, pois sem este quarto nível, simplesmente o rugby morrerá!
Não existem seleções nacionais vencedoras sem rugby social! Metam isso na cabeça!

É a partir desse rugby social que os níveis competitivos são alimentados, mas para isso é necessário existir um primeiro escalão competitivo (o terceiro nível) com contornos definidos, que sirva de foco para aqueles jovens que começam no rugby social, mas que querem evoluir.

Já várias vezes opinámos como deverá ser essa organização, mas sabemos que existem diversas opiniões, e só da discussão entre as várias correntes poderá sair uma solução.
O que não podemos é andar todos os anos a mudar, a brincar às casinhas!

Mas, mais importante do que mudar o número de equipas em cada divisão, é definir as responsabilidades da cada escalão competitivo - em 2010 publicámos uma série de artigos sobre as obrigações dos clubes em diversos países da Europa (País de Gales, Irlanda, França entre outros) e em 2011 voltámos ao assunto com uma primeira proposta concreta para em 2013 voltarmos a falar no assunto.
Como habitualmente em Portugal e em particular no nosso rugby, os ouvidos dos poderosos têm paredes...

Então, e para terminarmos voltando ao assunto do dia - o jogo Brasil-Portugal - aquilo que o jogo nos disse é fácil de entender: temos caminhado na via errada, e se não corrigirmos a trajetória, não vamos chegar ao futuro!

Não existe qualidade sustentável, sem quantidade.


2 comentários:

Unknown disse...

perfeita leitura do momento do Rugby Português.
eu por ter introduzido nos anos 70 o Rugby no Brasil, juntamente com os irmaos Nobre Guedes e outros exilados de 74, fiquei satisfeito com o desenvolvimento no Brasil do Rugby que nos anos 70, tinha o idioma francês e ingles no Rio e apenas ingles em Sao Paulo como referencia.
Nos anos 80, os brasileiros começaram a aderir ao Rugby... tal como em Portugal nos anos 60 nas nossas Universidades de Coimbra e Lisboa, alem dos LICEUS...
Falta o RUGBY escolar.
Falta o RUGBY regional.
Eu perdi as eleições na chapa do DIDIO contra o CABE...
e isso realmente foi o inicio do FIM, pois a nossa chapa tinha em mente não o curto prazo, mas um trabalho a longo prazo visando 2019..., ou seja um trabalho a 10 anos.
recomendo para verem a reportagem de ontem na RTP 1, nesta madrugada, sobre a Fabrica de Campeões na Nova Zelandia...
Força Manel, mas 8 clubes é a solução...com seleções regionais de premeio...e muito trabalho nas bases ou seja ESCOLAS...
Joao Antonio Carvalho

Unknown disse...

A derrota de Portugal neste dia 10 se deve muito mais ao avanço do Brasil do que da queda de Portugal, em 2017 no Brasil tivemos 99 equipes disputando os campeonatos estaduais e regionais no Brasil, isso sem contar as equipes reservas dos times de primeira divisão Paulista que jogam a quarta divisão para ajudar os times em desenvolvimento, temos ainda 3 divisões do campeonato nacional com cerca de 40 equipes, ainda existem diversos times jogando apenas amistosos e se preparando para entrar em competições, a seleção Brasileira possui 3 centros de treinamento com cerca de 60 atletas treinando diariamente e outros tantos sendo testados regularmente, estamos realizando diversos campeonatos para menores de 19, 17 e 15 anos, não somos perfeitos e temos muito o que aprender ainda no Brasil mas estamos crescendo diariamente, e digo mais, o Brasil estará na copa do mundo de 2027 marque minhas palavras.