16 de junho de 2017

RUGBY EM PORTUGAL - PARA ONDE VAMOS? *

*Pedro Sousa Ribeiro
O Rugby português atingiu esta época o seu ponto mais critico dos últimos 25 anos.

A derrota com a Bélgica deixou-nos no mesmo escalão competitivo, não nos possibilitando voltar ao segundo escalão europeu, onde estivemos nos últimos 25 anos. 
E desde 2000, ano em que os torneios europeus foram reformulados para o modelo atual, até 2016, nos mantivemos no European Championship, que aliás vencemos em 2004. 

No recente encontro com o Brasil voltamos a demonstrar as nossas atuais fragilidades competitivas.

As vitórias que tivemos esta época no European Trophy só podem ser valorizadas por aqueles que desconhecem o rugby internacional e apenas servem para apregoar, a nível interno, para uma população que, em elevada percentagem, é totalmente desconhecedora do fenómeno desportivo nacional e internacional, intoxicada que está pela mono cultura futebolística. 
Por outro lado, os conhecedores do rugby a nível mundial, sabem bem como valorizar esses resultados.

Nos Sevens, onde chegamos a ter alguma posição de destaque na esfera internacional, com a participação em 5 campeonatos do mundo consecutivos (1997, 2001, 2005, 2009, 2013) estamos muito perto de não atingir a qualificação para o próximo a realizar em 2018 em São Francisco. 
Após as duas recentes etapas europeias realizadas em Moscovo e Lodz a posição alcançada não é de molde a alimentar grandes esperanças, e uma inversão da situação, nas duas etapas que se seguem em Clermont Ferrand e Exeter é altamente improvável.

Ainda nos Sevens, atingimos posição de destaque nas World Series, sendo país residente em quatro 
épocas consecutivas tendo-se perdido esse estatuto na época 2016/2017. Foi através da presença nas Series que  se obteve a maior exposição mundial do rugby português para além da presença no mundial de XV em 2007, em França. 

Foram estas presenças que catapultaram o conhecimento internacional sobre o nosso rugby e que possibilitaram apoios financeiros, nacionais e internacionais, de valores significativos. 
Não se vislumbra tão pouco a qualificação para o torneio de Hong Kong onde se disputa uma vaga para as World Series da época seguinte  e portanto ficaremos daí afastados até, pelo menos, à época 2019/2020.

Se continuarmos neste ritmo iremos estar arredados dos palcos internacionais mais importantes, onde nos alcandoramos graças aos esforços de muitos jogadores de gerações anteriores e ainda atuais e treinadores e dirigentes que souberam e conseguiram que o rugby português fosse reconhecido internacionalmente. 

A mim, envolvido que estou há mais de 50 anos na sua promoção e desenvolvimento e que, juntamente com outros companheiros, continuamente pugnei nas esferas internacionais para o seu reconhecimento, muito me penaliza esta situação.

Urge pois inverter esta situação. 
E isso será possível se as gentes do rugby se unirem de novo na promoção do nosso jogo. 
E voltarem a olhar para o jogo, não como uma fonte inesgotável de rendimentos mas sim fazendo parte de um grupo que tem como missão recolocar o rugby português nos patamares que já alcançou. 

O crescimento do rugby em Portugal foi conseguido por quem muito deu e pouco pediu. 
Há jogadores em Portugal, que se bem enquadrados e dirigidos, podem atingir patamares mais elevados do que aqueles em que atualmente se encontram.
As prestações das equipas nacionais de Sub-18 e Sub-20 nas competições europeias nas ultimas épocas, são o garante que os nossos jovens têm qualidade competitiva.

Teremos que afastar lutas intestinas inter-clubistas e considerar que só a prestação internacional das nossa equipas nacionais são valorizadas quer interna quer externamente. 
Uma fugaz vitória num campeonato nacional nada representa se a nossa prestação internacional não tiver impacto significativo. 
Urge pois valorizar aquilo que nos une e secundarizar aquilo que nos divide.

Não tenhamos duvidas, os patrocínios internos e os apoios da World Rugby só aparecerão se tivermos resultados internacionais convincentes. 
E mesmo os apoios estatais estão, em parte, dependentes desses resultados. 
Não tenham ilusões, que pensar de outro modo, apenas agravará a situação atual.

Não é a panaceia de discutir alterações competitivas nacionais que vai alterar esta situação. 
Os modelos têm alguma influência mas não são, na minha opinião, determinantes nas nossas prestações internacionais. Num outro artigo poderei opinar sobre esses modelos.

O rugby português tem poucos meios financeiros â sua disposição, os clubes lutam com grandes dificuldades, certo, uns mais do que outros, e a Federação, nas palavras do seu Presidente está em situação de falência técnica.


A FPR, nomeadamente o seu Presidente e a Direção, terão que traçar medidas estratégicas para resolver o estrangulamento financeiro e tomar medidas, que poderão ser drásticas, de modo a ajustar as despesas às receitas atuais. 

Foram criadas estruturas demasiado dispendiosas que não se podem justificar neste período difícil. 
A estrutura orgânica da FPR e a sua governança necessitam de uma profunda reorganização colocando-a em linha com os sistemas vigentes na generalidade das federações de rugby de outros países. 
Apesar do estrangulamento imposto pelo regime jurídico das Federações Desportivas impor um modelo organizativo haverá certamente possibilidades de o ultrapassar. 
Mas estará a Direção da FPR com a disposição e a determinação para o fazer?

1 comentário:

Duarte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.