*António Vidigal
Durante a época que agora chega ao seu final, a FPR implementou nos escalões sub-16 e sub-18 um inovador modelo competitivo, aprovado em Janeiro de 2015, nove meses antes do início da competição, na sequência de discussão com os clubes e após alguns meses de estudo por parte do corpo técnico da FPR.
Este modelo que mereceu a concordância dos clubes - até que alguns dos “grandes” se viram afastados da competição principal - assentou no pressuposto de que nestes escalões etários existe uma grande variabilidade de época para época, em função do número de atletas disponíveis e da sua maior ou menor valia técnica.
O que leva a que numa época um clube pode ter uma equipa mediana ou fraca num qualquer destes escalões e na época seguinte poder ter uma equipa campeã nesse mesmo escalão, fruto das mudanças de escalões dos jovens atletas.
Ou seja, a FPR pretendeu que em todas as épocas o título nacional fosse disputado pelas melhores equipas dessa época e não em função da classificação da época anterior, que poderá não incluir as melhores equipas.
Isto conseguiu-se através de uma primeira fase, que apurou os 10 melhores desta época.
Para surpresa geral, sem discussão pública, sem a devida antecedência, mas com a arrogante e prepotente legitimidade regulamentar, a actual direcção federativa entendeu reverter o actual modelo, sem dar tempo a que exista histórico para avaliar a maior ou menor valia do mesmo.
Analisando o modelo que a FPR irá impor na próxima época, verifica-se que o principal pressuposto que levou à criação do modelo que agora é substituído, cai por terra.
Ou seja, nem sempre as melhores equipas de cada época irão ter a hipótese de disputar o título nacional.
É um regresso ao passado, que se constatou não ser o mais justo, nem o que melhor contribui para a evolução e desenvolvimento do rugby em todo o País.
Talvez o mais seguro para alguns clubes amigos.
Mas mais grave do que será a competição no grupo A do futuro modelo, é o que se irá passar no futuro grupo B e, pior ainda, no grupo C, o qual nem consta no regulamento dos Campeonatos Nacionais Sub-16 e Sub-18 para 2016/2017.
No grupo B, no qual só irão participar 8 ou 9 equipas, ao contrário do grupo A que terá 10 equipas, a participação dos clubes não segue os mesmos critérios aplicados ao grupo A: a classificação atingida na época anterior.
Neste grupo os clubes estão sujeitos a uma avaliação subjectiva, com um conjunto de critérios no mínimo questionáveis: histórico de participação em competições sub-14/sub-16/sub-18, demonstração de capacidade e compromisso para competir sem registar faltas de comparência, nº de atletas inscritos na época anterior e na presente nos três escalões acima referidos.
Independentemente da qualidade técnica e desportiva das equipas, a possibilidade de poderem participar na competição está condicionada a cumprirem determinados rácios, cerceando-se o potencial que alguns clubes têm de criarem equipas bastante competitivas, com um numero limitado de atletas.
Que implicações terá a implementação deste modelo no desenvolvimento do rugby longe dos grandes centros, onde a captação de jovens é bastante mais difícil?
Que possibilidades teria, por exemplo, o Caldas Rugby Clube de atingir a 13ª posição, na presente época, já que participou nesta prova com 15 atletas sub-18 e 4 sub-16, não tendo apresentado uma equipa sub-16 esta época?
Quantos mais clubes existem no País que vivem esta realidade, apresentando época após época equipas bastante competitivas num escalão ou noutro, ou em ambos, apesar do reduzido número de atletas?
Vão ser impedidos de participar?
Mais chocante do que se pretende implementar neste grupo B, que é obrigado a cumprir critérios que não são exigidos ao grupo A, é aquela que será a realidade do grupo C, para onde serão despejados os clubes que não cumprem os critérios para poderem participar no grupo B.
Qual o modelo competitivo previsto para este grupo? Não se sabe.
Que variante de rugby se vai jogar? Não se sabe.
Em 2015/2016, terminaram a competição nacional de XV 28 equipas no escalão sub-18, das quais três equipas B, e 29 equipas no escalão sub-16, das quais cinco B’s.
Ou seja, participaram 25 e 24 clubes, respectivamente, nos dois escalões.
Aplicando-se o brilhante modelo que a FPR irá impor aos clubes, existem 6/7 clubes no escalão sub-18 e 5/6 clubes no escalão sub-16 que irão ser compulsivamente englobados no novo grupo C.
Para além de alguns outros clubes que não participaram ou desistiram nesta época.
Será que todos os clubes estão conscientes do que lhes vai acontecer?
Olhando-se para o ranking 2015/2016 e sem ter em conta os brilhantes critérios descobertos pela actual equipa federativa, no escalão sub-18 ficam abaixo da linha de água o Ericeirense, o Guimarães, o Loulé, o São Miguel, o Santarém, o CRUP e o Sintrense.
No escalão sub-16, o Benfica, o Bairrada, o Santarém, o Belas, o Braga, a Galiza.
Isto assumindo que as equipas B de alguns clubes não terão o direito a participar no grupo B, pois nessa hipotética hipótese, o cenário para os outros clubes ainda será mais gravoso, com mais alguns deles a serem relegados para o grupo C dos esquecidos.
Ao contrário do que definem os estatutos, que legitimam a prepotência federativa de impor a sua exclusiva vontade, será importante que os clubes se mobilizem se querem ver os seus interesses e de todo o rugby nacional defendido, não alinhando nem permitindo que a FPR actue em defesa de alguns privilegiados, com uma visão muito redutora do que é o rugby em Portugal, exigindo à FPR que implemente um modelo que sirva a todos os clubes e, em especial, ao desenvolvimento do rugby nacional.
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1 comentário:
Curiosamente, para alem do exemplo do Caldas, veja-se um mais flagrante... O campeão nacional de sub-18 não tinha escalão de sub-16. Os seis atletas integraram, e bem, os sub-18. Provavelmente, não serão permitidas proezas semelhantes nos próximos anos
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