19 de julho de 2016

PEDRO RIBEIRO DÁ SUA OPINIÃO SOBRE MOMENTO DO RUGBY

*Pedro Sousa Ribeiro
A época 2015/2016 foi aquela em que o rugby português teve os piores resultados internacionais nos últimos 16 anos.

Foi em 1999/ 2000 que foram renovados os campeonatos europeus tendo sido nessa época que se iniciou o actual Torneio Europeu das Nações. 
Portugal participou nele ininterruptamente até esta época, tendo mesmo, em 2004, sido o seu vencedor. 
Juntamente com a Roménia e a Geórgia foi um dos três países que participaram em todas as suas edições. 
Essa sequência irá ser interrompida em 2016/2017 com a nossa descida ao grupo B.
Nas então chamadas IRB Sevens Series que se iniciaram em 1998/1999 Portugal participou, como país convidado, pela primeira vez em Novembro de 2000 no torneio de Durban. 
Desde aí, participamos em todas as épocas como país convidado para alguns torneios (nessa altura todos os participantes o eram por convite) e desde 2012/2013 - ano em que o Circuito Mundial foi estruturado na forma que se mantém até hoje - como core team em resultado da classificação obtida num torneio de qualificação realizado em Hong Kong na época 2011/2012. 
Em 2016/2017 não iremos, pela primeira vez participar. 

Mesmo nos torneio europeus a prestação dos sevens foi claramente inferior ao seu passado, não mesmo obtendo um posicionamento que nos permita disputar a qualificação para as World Series de 2017/2018. 
Mais um sério revés.

O rugby português atingiu pois o seu nível mais baixo nas competições internacionais seniores. 
A mais baixa posição no ranking World Rugby (30 º lugar) e também a pior posição em Sevens nos rankings das series mundiais e no Grand Prix europeu. 
Algumas boas classificações em Sub-18 e Sub-19 não chegam para compensar as más prestações do XV e VII seniores.

Mais do que escalpelizar as razões para esta situação importa ver como poderemos recuperar alguma posições.

Nos Sevens, voltar às World Series será extremamente difícil. 
Desde que os sevens se tornaram modalidade olímpica o investimento de muitos países nessa variante aumentou exponencialmente e não diminuirá no futuro próximo. 

Portugal conseguiu bons resultados nos anos passados por dois tipos de razões :
- a realização do Lisboa Sevens, iniciados na década de 80, foi um factor determinante na evolução dos jogadores portugueses. Na década de 90, a participação de fortes equipas estrangeiras e a excelente equipa do Cascais contribuíram decisivamente para a evolução dos jogadores portugueses e foram determinantes para que Portugal tivesse excelentes resultados no anos iniciais do século XXI.
- a menor atenção que outros países europeus davam as sevens e a não participação das equipas nacionais britânicas nos torneios da então FIRA-AER.

Em 2000 a estratégia da direcção da Federação apontava para um forte investimento nos sevens antecipando a importância que a variante se previa vir a atingir. 
Essa estratégia mostrou-se completamente acertada e trouxe ao rugby português a visibilidade internacional nunca antes alcançada.

Nos últimos anos, os torneios nacionais de sevens têm tido uma qualidade bastante baixa não estando os clubes, salvo algumas, poucas, excepções, minimamente interessados nessa variante. 
Só promovendo os sevens com torneios fortes nos períodos inicial e final da época, criando incentivos aos clubes, se poderá inverter esta situação.

No que respeita aos XV o actual nível competitivo interno, caso se continue a privilegiar a presença de jogadores que alinhem em clubes nacionais, não permite perspectivar um regresso rápido à competitividade anterior. 
Não tenhamos dúvidas que, sem recorrer aos jogadores que actuam em clubes estrangeiros e todos aqueles que satisfaçam as condições para participação nas selecções nacionais estabelecidas pela World Rugby e pelo estado português, que têm todo o direito de aspirar a envergar a camisola nacional, desde que mostrem total disponibilidade para isso, aquele regresso rápido muito dificilmente acontecerá.

No caso de jogadores que actuam no estrangeiro é essencial estabelecer atempadamente boas relações com os clubes que representam, quer com a sua estrutura directiva quer técnica. 
E estas boas relações demoram tempo a ser estabelecidas e podem facilmente ser negativamente afectadas com uma ou outra acção menos pensada.

No que respeita ao nível interno, menos do que elaborar sobre modelos competitivos, embora estes tenham a sua influência, há que expandir a prática do jogo, fortalecendo os clubes existentes e promovendo a criação de novos clubes. 
A actual base de praticantes seniores, bastante diminuta, é um forte factor limitativo à nossa competitividade externa.

Além disso importa criar um nível intermédio entre os clubes e a selecção nacional, lançando uma competição inter-regiões. com organização das estruturas regionais ou, em alternativa, através de associações de clubes. 
Para isso há que fortalecer as associações regionais levando-as a ultrapassar a sua vocação de desenvolvimento do rugby nos escalões mais jovens, onde têm feito um excelente trabalho. 

É uma proposta difícil de executar mas, a curto prazo, será, no meu entender, a única possibilidade de melhorar o nosso nível interno. 
Para isso será necessário reservar 4 ou 5 fins de semana para essa competição, reformulando todo o calendário da época, questionando mesmo as provas actuais (campeonatos e taça). 
Importa que todos os agentes intervenientes no rugby português contribuam, sem dogmatismos e com uma visão global, discutam o futuro do rugby português contribuindo assim para que a estrutura da Federação possa encontrar o melhor caminho para repor a posição competitiva internacional que já teve.

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bem o diagnóstico, Pedro, mas evoluirmos rapidamente á nível senior é necessário que os clubes que forneçem habitualmente os atletas para as selecções tenham competição.
Só vejo uma maneira - uma Liga Ibérica com quatro ou cinco clubes de cada país, financiada por um destes bancos espanhois que mostram tanto interesse em "investir" em Portugal.
A equipa de "esperanças" de cada um destes quatro ou cinco clubes participaria no campeonato nacional e teria muitas hipóteses de passar ao "final four" da divisão de élite, não duvido...

abç David

Duarte disse...

Concordo com tudo o que Pedro Sousa Ribeiro escreveu.

No entanto, quanto à competição de nível intermédio - por exemplo, uma competição com 4 equipas (Norte/Centro, Lisboa 1, Lisboa 2, Lisboa 3/Sul) a 2 voltas e com final e apuramento do 3º lugar a uma mão, em campo neutro; total de 7 jogos) só vale a pena organizá-la se os melhores jogadores em Portugal participarem nela.

No passado, os jogadores da selecção nacional e muitos dos que lutavam por um lugar nessa selecção não quiseram participar nos torneios regionais e essas provas não tiveram interesse nenhum e tornaram-se inúteis.

O ideal seria que os melhores jogadores jogassem a 2 níveis. Uns nos clubes e nas selecções regionais e outros, os melhores de entre eles, nas selecções regionais e na nacional. Mas isso em Portugal é completamente impossível; nem vale a pena explicar porquê.

Por isso, poder-se-á dizer que não é conveniente que um jogador jogue a 3 níveis (clube, sel. regional e sel. nacional), que seria o que teria que acontecer em Portugal com os melhores entre os melhores. No entanto, uma vez aceite a proposta de voltarmos a ter uma verdadeira selecção nacional, essa questão apenas se colocaria em relação a uma meia dúzia de jogadores (pensando num grupo de cerca de 28 jogadores, talvez um talonador, um 2ª linha, um ou dois 3ª linhas e dois ou três jogadores das linhas atrasadas), já que os outros, nascidos em Portugal ou não, jogam todos no estrangeiro. Quanto a esses jogadores, caberia aos clubes pouparem-nos nos jogos menos competitivos do campeonato nacional, que infelizmente são muitos.

Duarte disse...

Quanto ao formato da DH, o melhor, NESTE MOMENTO, é não lhe mexerem, mas não tenho nada contra uma DH com o formato 6 + 6 (2ª fase com 4 + 4 + 4).

É verdade que esse formato seria vantajoso para as melhores equipas nacionais (o facto dessas equipas agora serem todas da região de Lisboa é puramente circunstancial; tenho a certeza que brevemente o CDUP voltará ao top 6 e a Académica, mais tarde ou mais cedo, também vai dar a volta), mas também é verdade que seria muito vantajoso para clubes como o Lousã, CRAV, Montemor, Évora e Benfica, entre outras. Parece que o interesse destes clubes nem sempre é considerado, apesar dos dirigentes máximos do Lousã e do CRAV já terem dito claramente que são a favor do formato 6 + 6. E explicaram porquê, sendo que as razões atendem aos interesses dos seus clubes e não têm nada a haver com querer agradar "aos que mandam".

Henri Carvalho disse...

Quelle tristesse de voir l’état dans lequel se trouve le rugby portugais. Mais la tristesse n’est pas le seul sentiment qui domine. Je pourrais aussi parler de révolte, de désespoir voire de honte. Défaite, défaite et encore des défaites. A la longue cela devient difficile à assumer, à supporter.

Quel énorme gâchis quand on sait le formidable réservoir de joueurs qui jouent à l’étranger et notamment en France ? Jamais vous ne m’ôterez de l’idée que si aucun luso-descendants n’a été sélectionné, c’est par mépris social. Nous les enfants de l’immigration portugaise ne sommes pas issus de des mêmes strates de la société mais nous avons un sens et un amour de la patrie qui n’a rien à envier aux natifs du Portugal.

Sans l’apport des luso-descendants le rugby portugais est mort. Moi qui suis si critique à l’égard de l’esprit du foot, regardez la composition des 23, 8 sont nés sous d’autres cieux (Cap-Vert, Guinée-Bissau, France, Allemagne, Brésil) et probablement que sans eux rien n’aurait été possible. La victoire du Portugal à l’Euro de football en est-elle moins belle ? Que cela nous serve de leçon.

Claudio disse...

Por um lado, Adérito Esteves, sem dúvida um dos melhores jogadores de seven do planeta e, provavelmente, entre os melhores três-quartos de Portugal em XV, decide transferir-se para o Tarbes, clube francês de fed1 (terceira divisão) onde Antônio Aguilar jogou depois do mundial de 2007, despromovido este ano por razões financeiras, certamente porque - com toda a razão - o jogador experiente acredita que trata-se de uma grande oportunidade para ele de aceder rapidamente a elite do Rugby europeu e eu penso que isso pode acontecer logo no final da próxima temporada com o Tarbes (que possivelmente vai subir) ou com outro grande clube porque o jogador vai dar nas vistas nós próximos meses se tudo correr bem.

Por outro lado, Mike Tadjer Barbosa, considerado este ano como uns dos melhores talonadores do Top 14, começou um jogo decisivo do 6 nações B com Portugal sentado no banco nesta primavera, dizem porque ele não pude se juntar a equipa com suficiente antecedência...

Acho que está tudo dito sobre a aberrações do ano 2016 nas convocatórias do XV português !

Esperamos que as coisas sejam diferentes daqui para a frente e que se ganhe em realismo/pragmatismo o que se tem que se perder em sentimentalismo/lirismo para existirmos na cena internacional...

Abraço.
http://www.tpr65.com/news-120/news-de-lequipe-pro/item/1738-dede-aderito-rejoint-le-tpr.html

Duarte disse...

O Tadjer vai continuar no Top14? Que jogadores portugueses vão estar nesse campeonato, além o Bardy e do Samuel?