13 de agosto de 2012

TOMAZ MORAIS FALA SOBRE O NOVO MODELO COMPETITIVO


Tomaz Morais é hoje uma figura incontornável do rugby português, principal responsável pela participação de Portugal no mundial de 2007, e pelos sucessivos êxitos da seleção nacional de sevens, e que, desde 2010 ocupa o vértice da pirâmide técnica da FPR.
Em conversa com o Diretor Técnico da Federação que teve lugar no Algarve, nas vésperas do Torneio de Qualificação para o Mundial de Sevens de 2013, abordamos dois assuntos relacionados com a nova época, e dessa conversa damos hoje conhecimento da primeira parte, onde se fala do novo modelo competitivo da Divisão de Honra, deixando para a segunda parte os esclarecimentos de Tomaz Morais sobre as competições nacionais de sevens.

A NOVA FÓRMULA
Mão de Mestre: Tomaz Morais, queres comentar a nova fórmula de disputa dos campeonatos?
Tomaz Morais: Não é propriamente comentar, posso explicar o que nos levou a alterar o quadro competitivo de uma forma geral, visto que a ideia inicial era mantê-lo a quatro anos e não alterar.
O meu ponto de vista pessoal enquanto técnico, ex-selecionador nacional, treinador de clube, um quadro competitivo deve ser extremamente motivador para os jogadores, deve ser equilibrado, deve ter o princípio da equidade como base da sua elaboração e deve nivelar por cima, sempre, deve obrigar a que jogadores, treinadores, dirigentes, se empenhem ao máximo para crescer continuamente e não pelo lado fraco da competição, deve dar oportunidade aos melhores de jogar com os melhores, e deve dar aos pequenos a oportunidade de poder jogar com os melhores.
Nessa perspectiva, desde 2007, porque mais efetivamente entrei nela, até lá nem sequer me preocupava com a competição, a competição para mim nunca foi um problema enquanto selecionador nacional, não foi um handicap, não foi uma barreira, não foi uma pedra. Sabia que era a que havia em Portugal, sempre fui a favor de uma final, tal veio-se a provar, do espetáculo desportivo que criou, da imagem que passa para fora e se há muita gente que tem contato – não falo da gente do rugby mas sim da gente de fora do rugby que nós temos que viver para fora, temos que crescer para fora – se há muita gente que fala do campeonato português, fala porque há uma final, e fala porque a final tem sido um momento de grande intensidade desportiva.
Pode ser polémico, mas eu considero que as finais têm sido jogadas pelas equipas na máxima força, ou quase na máxima força, não tem havido impedimentos internacionais nos dias em que se disputa a final, o que quer dizer que a equipa que é mais regular durante a prova, também o é porque muitas vezes não tem tantos jogadores na seleção, e, quando chega a final, essas equipas estão niveladas. Eu sei que é um jogo, são 80 minutos, mas é de 80 minutos que se vive o rugby, e eu vejo o rugby assim e ninguém me convence a ver ao contrário – um jogo de intensidade para ser resolvido em 80 minutos.

BELENENSES - UM INCENTIVO EXEMPLAR
MdM: Mas essa questão dos play-off está prevista
T.M.: Está prevista e vai ter grande impacto no rugby nacional porque permite que um clube que deu mais jogadores à seleção nacional e que possa por força dessa razão – eu vou dar um exemplo e os outros que me perdoem, mas é o Belenenses, que tem dado muitos jogadores à seleção de sevens e nunca se queixou, temos tido por parte dos dirigentes do Belenenses um comportamento exemplar, e tenho que referir o Manuel Costa, que desde o primeiro minuto em que eu entrei em funções, na altura para trabalhar com o (José) Nicolau, depois com o (Evan) Crawford e mais tarde sozinho com a minha equipa técnica, já como líder, o Belenenses sempre foi um clube que incentivou à seleção nacional, em todos os momentos.
Assim, este clube que pode ficar em sexto lugar no campeonato, pode vir a ser campeão, porque nesse momento vai jogar com os seus melhores jogadores de certeza absoluta.
MdM: Mas isso é também uma alteração aos Play-off, que eram jogados apenas pelas quatro melhores equipas e foram agora aumentados para seis.
T.M.: Para seis, no fundo para 10, porque as outras quatro tem que lutar para não descer de divisão.
MdM: Sim, mas em termos do aceso ao título o sexto também já pode disputar o título.
T.M.: Pode disputar sim.
Deixa-me só dizer-te, em jeito de sumário, que desde 2007 para cá, já com o anterior elenco e de uma forma muito pacífica, porque estavam quase todos de acordo, toda a gente via uma redução a seis equipas, como modelo para aumentar o nível competitivo interno, para proporcionar à seleção nacional crescer e os jogadores chegarem à seleção nacional com mais pressão nas pernas, pois um jogador internacional vive de pressão tanto na cabeça como nas pernas, jogador que não consiga ter pressão nas pernas chega àquele nível e não vai lá fazer nada.
Vamos ser claros, pode ser muito bonito, muito forte, tecnicamente correto, até um exemplo, mas um jogador que não consiga pôr em prática as suas potencialidades sob pressão não pode jogar na seleção.
De maneira que falámos muito nisso, a Comissão Técnica sempre, até hoje, a defender esse modelo – vamos ser claros, eu sempre defendi esse modelo – até um determinado momento em que nós tivemos a coragem, não sei se coragem será a palavra mais certa, de nomear uma Comissão Externa para nos vir ajudar a pensar.

COMISSÃO EXTERNA
MdM: Quem era essa Comissão externa?
T.M.: Era o João Paulo Bessa, o Pedro Fragoso Mendes, o José Mendes, o Martim Aguiar, o Pedro Leal e o Vasco Uva como capitães das duas seleções – o Frederico Oliveira pediu para não estar presente por ter exames e delegou no Pedro Leal – os treinadores nacionais, o Presidente da Federação – que não é externo -, o João Luis de Coimbra e numa fase posterior convidámos o Joaquim Ferreira que por motivos profissionais não pôde aceitar.
Esta Comissão, muito calmamente, pensou os modelos, pensou os campeonatos, e é curioso que a proposta mais evidente que dali saiu foi a redução a seis.

A PROPOSTA DE PEDRO FRAGOSO MENDES
O aumento do nível competitivo, a defesa das finais e a redução para seis foi unânime, e foi daí que nós partimos para três modelos, no fundo quatro, porque numa segunda reunião, com autoria do Pedro Fragoso Mendes, foi colocado em cima da mesa um modelo de alargamento e não de redução, em que a determinado momento permitia que as melhores equipas jogassem entre si, as chamadas equipas do grupo A, e as equipas que estão em desenvolvimento, que neste momento não atravessam uma fase tão forte como as outras – não quer dizer que isto não se altere – jogassem entre si também.
Isto permitia que não houvesse tanta perturbação da seleção nacional, que o quadro competitivo fosse maior, o que permitia aos clubes lançarem uma série de jogadores e abrirem os seus plantéis a 40, 45, 50 jogadores.
Eu como presidente da Comissão Técnica gostei dessa proposta e comecei a trabalhar nela, primeiro sozinho, depois com a ajuda do Mário Costa e do Henrique Garcia.
Começámos os três muito envolvidos, o Presidente algumas vezes era chamado para ver o que nós estávamos a fazer, e dar a sua opinião, até porque pela forma como o desporto português está organizado, ele é o responsável máximo, e com muito positivismo fomos montando as coisas.
O Pedro (Fragoso Mendes) mandou-nos o seu modelo, que em alguns aspetos não se encaixava no que nós estávamos a trabalhar, e o que fizemos foi pegar no modelo dele e alterámos algumas coisas.
Por exemplo, o Pedro tinha pensado num modelo a 12, e nesse modelo a 12 havia sempre emparceiramento, ao ser um modelo a 10 há sempre uma folga.
Mais tarde levamos o modelo a uma reunião com os clubes, os clubes gostaram com unanimidade, com exceção de um clube que se absteve.

AS FOLGAS E O PLAY-OFF
Os clubes queriam que a equipa que folga no chamado grupo A jogasse com a equipa que folga do Grupo B, mas a folga é um momento para os treinadores poderem maximizar outros fatores do treino, potenciar outras áreas, é um momento em que os treinadores podem dar descanso a alguns jogadores, às vezes descanso a eles próprios.
MdM: A folga vem servir um pouco de embreagem entre a extensão maior, de repente, da época, com a possibilidade das equipas gerirem esses aspetos.
T.M.: Claro, e depois vem aquele momento que eu te disse que gosto muito, que é o play-off, a pressão máxima, com o primeiro e o segundo classificado que passam diretamente à meia final e ficam a aguardar quem vai jogar com eles, em que demos oportunidade ao terceiro de jogar com o sexto e o quarto de jogar com o quinto, na casa do melhor classificado, o que é justo.
Os dois vencedores destes jogos vão jogar as meias finais, enquanto os dois perdedores vão disputar um jogo muito especial, que define quem vai ficar no grupo A no ano seguinte, e portanto não é um jogo qualquer.
Entretanto, para baixo, o sétimo joga com o décimo e o oitavo joga com o nono, e se os vencedores destes dois jogos esfregam as mãos, acabaram a época e vão assistir às finais, os dois vencidos vão lutar pela permanência num jogo de morte – mas se queremos o alargamento, as equipas tem que se habituar a este tipo de jogos.
MdM: E têm a possibilidade durante o ano não só de jogarem com equipas do seu nível mas jogarem também com equipas melhores, eventualmente desfalcadas.
T.M.: Estou cem por cento de acordo contigo, não podia estar mais, e esses jogos entre o quinto e o sexto, o nono e o décimo e a final, estamos a tentar que sejam realizados no mesmo campo, no mesmo dia, em horários diferenciados, embora haja a questão econômica e, se as duas equipas dum mesmo jogo, forem da mesma região e optarem por jogar perto das suas casas para não gastarem dinheiro, essa questão fica em aberto.
As pessoas tem que compreender que este modelo terá mais custos para as equipas mas também para a Federação, vamos ter que ter mais árbitros, mais árbitros a deslocarem-se.
Não é só querer mudar é também sabermos o que temos, num momento difícil que estamos a atravessar todos, não digo a Federação digo o País, com certeza que os clubes estão a atravessar momentos muito complicados, mas a Federação também tem as suas dificuldades, cada vez tem mais atividades, um crescimento que se vai acentuando, por menor que possam pensar, obriga a que sejam utilizados mais recursos ou que sejam mobilizados muitas vezes não mais, mas mobilizados esses recursos em várias direções

DEIXA DE HAVER MOTIVO PARA ABANDONAR O RUGBY
A parte bonita que eu acho que isto vai ter é que os jogadores não têm motivos para abandonar o rugby. Não há motivo nenhum neste momento, e isso entristecia-me enquanto pessoa do rugby, não enquanto Diretor Técnico, enquanto Tomaz Morais, alguém que acima de tudo  gosta é de jogar e não pode, ler, nomeadamente na imprensa escrita, que “o campeonato acaba em Janeiro, que chatice não há mais rugby”.
Depois, no ano seguinte, “o Campeonato acaba em Maio, que chatice, temos que interromper”. Mas eu vejo os outros campeonatos todos com interrupções. Vejo o Super 15 – agora já não é, vai a caminho do Super 20 – com interrupções.
Havia interrupções que são inevitáveis. O que é que nós quisemos criar aqui? Um calendário em que essas interrupções não existem e em que, inclusivamente a meia final e a final da Taça possam ser jogadas nos momentos de paragem da seleção.

ENVOLVÊNCIA DE JOGADORES QUE ESTÃO EM FRANÇA
Porquê? Porque neste momento a estratégia que está montada, e que eu tenho que respeitar, a equipa técnica tem que respeitar, é a envolvência de muitos jogadores que estão a jogar no campeonato francês.
Isso permite que os jogadores que estão em Portugal também possam jogar pelos seus clubes, pois os jogadores que estão em França não vão para descansar, vão para jogar, e então os nossos ficam cá à espera que os outros joguem e estão parados?
Se eles quiserem jogar, se estiverem bem, se houver uma boa comunicação entre a equipa técnica nacional e os clubes, permite que esses jogadores possam ser utilizados ou não, dependendo do seu estado, nesses jogos das meias finais da Taça.
Acaba por ser um calendário longo extenso, mas com muitos momentos de paragem, momentos de paragem na Páscoa, no Natal, que nós sentimos para todos que é um calendário para respirar, para observar e para analisar e para manter pelo menos a dois anos e só alterar se sentirmos que foi prejudicial para o rugby.

O IMPACTO DAS COISAS
Muitas vezes as coisas que nós fazemos têm impacto a 10 anos, não têm impacto imediato, nós queremos impacto imediato, habituámo-nos a milagres no rugby português e depois queremos tudo, logo. Há que ter mais paciência, o rugby também é um jogo de paciência.
Basicamente a Divisão de Honra é esta, e a Primeira Divisão (que se mantém com oito equipas) é uma prova adequada à realidade dos clubes.

(A segunda parte da entrevista, onde se fala das competições nacionais de sevens, será publicada muito em breve)

8 comentários:

Pedro disse...

O novo modelo deixa as equipas da Primeira sem nenhuma hipótese de se manterem em caso de subida, a não ser que tenham dinheiro para 10 estrangeiros. Se não tiverem nem vale a pena tentarem.

Anónimo disse...

quais são as hipóteses que tinham e deixaram de ter com a mudança de modelo? como mais vagas na divisão de honra as hipóteses de manutenção aumentam ou não?

Anónimo disse...

Claramente respostas do tipo politicamente correcto , não tem opinião que defenda clara é mediante o momento e as pessoas , entre portas diz diferente por aqui diz outras , enquanto este senhor se mantiver a secar os rendimentos da FPR não vamos a lado nenhum , alguém que está com responsabilidades na FPR à mais de 10 anos e tudo está na mesma ou mesmo pior é de perguntar , o que este senhor andou por lá a fazer .

Anónimo disse...

as mudanças sao boas melhores do que estava.

Anónimo disse...

Como sempre ele faz tudo, mas não é responsavel por nada. Respeita a politica que lhe é imposta pelo presidente mas depois diz que lhe vai dando conta do que se passa. Estou de acordo com um post anterior. O Tomaz é sempre politicamente correcto.Aliás a ideia de juntar pessoas partiu da Direção e não de qualquer comissao tecnica que nunca propôs nada semelhante.

Anónimo disse...

essa comissão técnica que tem tido um trabalhado incansável durante estes anos todos revela bem o estado das coisas , o que esses senhores professores por lá andam a fazer , a coçar as costas uns dos outros seguramente , Tomaz Morais , Henrique Rocha , Henrique Garcia , Rui Carvoeira , João Moura , eis as cabeças que pensam por todos nós , é tempo de deixarem de o fazer porque os resultados são fracos para os anos que por aí andam , "estamos entregues aos bichos " como se costuma dizer .

Anónimo disse...

Pôr em causa o trabalho dos acima mencionados é no minimo ofensivo!! e concerteza que quem os critica chegou ao rugby á pouco tempo!!! Com excepção feita ao Prof. H. Garcia e ao Prof. João Moura, aos outros muito devemos! estes mais recentes estão no entanto também a fazer um excelente trabalho!! Vão pa lá vocês fazer melhor! É só sábios do rugby!!

cumprimentos

Anónimo disse...

Deixem-se disso. Será que o rugby nacional não evoluiu ? Ainda há meia duzia de anos perdiamos com a Belgica ou com a checoslovaquia.Alguma vez os jovens jogaram a este nível?Sejam serios e justos. Vamos ser portugueses e ajudar. Acabem com as guerrilhas o que importa é que os lobos ganhem.A situação é dificil e todos temos obrigação de ajudar