27 de abril de 2019

OS PROBLEMAS DO RUGBY PORTUGUÊS - A ARBITRAGEM*

* Pedro Sousa Ribeiro
Arbitrar não é uma tarefa fácil. Além do conhecimento profundo das Leis do Jogo o árbitro tem que conseguir encontrar posicionamentos corretos para poder avaliar bem as diversas situações e um controlo emocional que lhe permita controlar todas as eventuais situações de potencial conflito.

É inegável que a arbitragem é um dos problemas principais do rugby português.
O quadro disponível é muito limitado e impede que haja árbitros designados oficialmente para todos os jogos do calendário oficial. 
Se, em alguns fins de semana, quando há menos jogos programados, é possível designar árbitros para todos os jogos, noutros casos, em que o número de jogos é mais elevado, torna-se impossível cobrir todos.
Além da lista de árbitros ser limitada, há as indisponibilidades momentâneas, fatores que tornam a tarefa de quem nomeia extraordinariamente difícil.
Se juntarmos a isso a fraca qualidade geral e a grande heterogeneidade do grupo temos uma situação muito complicada. E convém não esquecer que sem árbitro não há jogo. E o desenvolvimento de uma modalidade tem que ser harmónico, jogadores, árbitros, treinadores e dirigentes.

Como chegamos a esta situação? O continuo, ao longo dos anos, desprestigio da função arbitragem, com sucessivas ações de desrespeito por parte de treinadores, dirigentes e espetadores e, por vezes, também jogadores, foram fatores importantes para o afastamento de alguns e desinteresse de outros. Se a comunidade rugbistica não alterar essa postura não haverá certamente árbitros na quantidade necessária e com a qualidade requerida.

Temos árbitros, por vezes muito pouco considerados e mesmo insultados por gente com visões muito limitadas sobre o rugby. 
Por muito maus que sejam, e alguns o são, sempre são mais conhecedores do que o comum dos apoiantes dos clubes. 
Não duvido, no entanto, da sua predisposição para fazer o melhor que podem e sabem. Se os insultos aos árbitros não forem severamente punidos e preferencialmente eliminados dos nossos campos, o rugby português continuará a clamar por mais e melhores árbitros. E sem os obter.

Como ultrapassar esta situação? As ações que o departamento de formação da FPR em conjunto com o diretor técnico de arbitragem tem levado a cabo, designadamente o programa Eu Apito para jovens árbitros, poderão constituir uma solução. 
Mas apenas a médio prazo. 
E para que esses jovens de sintam motivados há que apoiá-los e não os criticar desabridamente o que levará certamente ao seu afastamento.

Além disso é indispensável motivar antigos jogadores ou aqueles que estão na fase final da sua  carreira para a função arbitragem tão, ou mais importante, do que qualquer outra. 
Obrigar os clubes a indicar árbitros sob pena de penalizações pontuais nas provas em que tomam parte poderá ser uma solução. Se a isso obrigados, os clubes terão que encontrar soluções.

Por outro lado, é fundamental classificar os árbitros em, pelo menos, três graus, e atribuir os prémios do jogo em função das diferentes categorias e não em função dos jogos em que oficiam. Este sistema levaria os árbitros a cuidar de sua progressão e a manter uma condição física consentânea com essa categoria. 
Para uma classificação dos árbitros há que, no entanto, dispor de um conjunto de observadores, preferencialmente antigos árbitros que, sem qualquer remuneração, apenas com contributo para despesas de deslocação, apoiariam os árbitros comentando as suas atuações e apoiando assim o seu desenvolvimento. 

Além disso a presença de alguém que possa acompanhar os árbitros mais jovens seria certamente uma ajuda preciosa para que se possam sentir psicologicamente mais confortáveis.
Na área da organização desde há muito que defendo que o setor arbitragem deve estar representado diretamente na estrutura executiva da Federação, a direção, pois só assim esse órgão pode abranger todas as áreas do jogo e definir quais as prioridades a que deva atender.

Pedro Sousa Ribeiro
27 Abril 2019

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