26 de novembro de 2014

OS ÁRBITROS TAMBÉM MARCAM ENSAIOS? *

* José Muralha
Os árbitros também marcam ensaios?
Espero que depois de um instante inicial de surpresa, o leitor diga para consigo “Claro, são os ensaios de penalidade”. 

Em seguida, pode sentir felicidade e orgulho por o desporto da bola oval ser bem mais avançado que os outros em termos de fair-play. 
Basta que o árbitro considere que uma falta da equipa defensora impediu um ensaio que seria provavelmente marcado, não permitindo, de forma alguma, que o crime compense (no soccer, cerca de 10% das grandes penalidades são falhadas).
Mas não me estou a referir a esta situação. 
Queria apenas chamar a atenção e promover a discussão para uma situação de jogo em que é o próprio árbitro que quase faz o toque de meta. 
Trata-se de uma situação que, não sendo rara, se pode considerar pouco frequente: ocorre menos vezes que a marcação de ensaios de penalidade.

Após uma falta da equipa defensora, o árbitro sinaliza a marcação de uma penalidade, mas permite correctamente que o jogo se continue a desenrolar (costuma-se dizer que se está a jogar a vantagem). 

Após verificar que a equipa atacante não teve vantagem no prosseguimento do jogo, o árbitro assinala a penalidade no local onde a falta foi cometida. A equipa atacante faz a bola chegar a esse local, marca a penalidade e, na sequência da jogada, marca ensaio.

Dito desta forma, parece que tudo correu como devia ser, mas não. 
Na situação que se pretende exemplificar, a distância entre o local em que a bola se encontrava e o jogo se desenrolava, e o local em que a falta foi assinalada era tão grande que a equipa defensora não teve qualquer possibilidade de se colocar em posição de tentar contrariar de forma legal o ensaio (mais de metade da equipa está impedida de participar no jogo por não se encontrar a 10 m do local da falta). 
Algumas vezes, esta situação tem um final alternativo: um elemento da equipa defensora não se reposiciona a tempo e impede em falta o prosseguimento do jogo e vai descansar 10 minutos e rezar para que o árbitro não assinale ensaio de penalidade.

Nestes casos, parece que a resposta à pergunta inicial deveria ser: não, os árbitros apenas assinalam que uma equipa marcou um ensaio (ou atribuem um ensaio a uma equipa, award a try no original), mas às vezes ajudam muito.

Não se pretende que os árbitros “protejam” as equipas que cometem faltas, mas apenas que não penalizem triplamente a equipa faltosa (uma vez com a marcação da falta, a segunda com a possibilidade de a equipa atacante tirar partido de jogar a vantagem, e a terceira impedindo a equipa faltosa de defender dentro das regras a continuação da jogada). 
Claro que não se pretende que o árbitro conceda uma “contagem de protecção” à equipa faltosa, mas com um pouco de bom senso pode-se chegar a um compromisso, dando um tempo razoável para que a equipa faltosa se reposicione. 
Em todo o caso, da parte da equipa faltosa o tempo será sempre escasso, e da parte da equipa atacante sempre demais, mas uma boa medida será sempre o tempo que se leva a correr com a bola entre a zona onde o jogo se desenrolava e o local onde a falta é assinalada. 
Aliás, se o árbitro se encontrasse a acompanhar de perto o jogo no local onde este se desenrolava, este tempo razoável estava desde logo garantido.

Esta situação assume contornos mais marcantes nos jogos de escalões de formação, em que se defrontam equipas com níveis de evolução distintos, em que a arbitragem deve ter uma importante componente didáctica. 
Ensaios deste género sofridos por uma equipa com menos conhecimentos do jogo só servem para desmoralizar e criar “anti-corpos” contra os árbitros; quando marcados por equipas mais evoluídas apenas ajudam a avolumar um resultado com pontos sem oposição que não ajudam à melhoria das competências técnicas dos seus jogadores.

Para terminar, e apesar de se tratar de uma situação independente da anterior, gostaria ainda de referir que, em muitos casos, os árbitros permitem abusivamente a execução incorrecta de penalidades “de forma rápida”: sem a bola ter sido pontapeada pelo marcador (com a parte inferior da perna, com excepção do calcanhar e joelho), largando-a claramente das mãos (tocar com a bola no pé não chega), marcando a penalidade fora do local assinalado e tirando claro proveito da situação (muitas vezes, o árbitro nem sequer vê a marcação da falta porque o jogador a efectua à frente do local onde o árbitro se encontra a assinalar a penalidade).

Espero ter sido polémico quanto baste e contribuído construtivamente para que futuras decisões dos árbitros, sem deixarem de cumprir as leis do jogo, possam ser mais justas.

José Muralha
Jogador do Técnico 73 a 86 (do século passado)





6 comentários:

Anónimo disse...

Existem determinações claras sobre este assunto. Naturalmente que haverá sempre quem falhe e sempre quem considere que o tempo é escasso ou demasiado. Depende do ponto de vista de quem defende ou ataca. As determinações são: 1- O árbitro TEM de ver a penalidade a ser marcada. 2- A bola tem de ser pontapeada, o que implica que TEM de sair das mãos de que executa. 3- A parte polémica. Numa situação de vantagem, junto à área de ensaio, o árbitro tem de dar um tempo razoável, não é ficar à espera que aconteça, para que a equipa defensora se coloque. Para isso é recomendado que o árbitro "caminhe" até ao local da falta e só depois de lá chegar indique o local da falta. O tempo que o árbitro leva no percurso, deverá ser o suficiente para a equipa defensora se colocar em jogo. Se o não fizer, foi por opção ou inépcia e isso não é responsabilidade do árbitro. Sei que nem todos o fazem, mas estas são as determinações. Espero ter conseguido aclarar. Cumprimentos Manuel Barros

Anónimo disse...

Estou de acordo como a situação se processa actualmente, pois a equipa faltosa tem de facto de ser penalizada, no entanto, conforme diz, nos escalões de formação deverá de facto haver algum controlo sobre a situação, por exemplo ser obrigatório que o árbitro esteja junto do jogador que vai marcar a falta, no sentido de permitir a equipa defensora acompanhe o movimento do árbitro.
Quanto aos "anti-corpos" contra os árbitro, por parte de jogadores dos escalões de formação, permita-me discordar, mas são, quase sempre, transmitidos pelos treinadores e dirigentes. Em alguns casos, estes, passam os jogos inteiros a protestar com o árbitro sendo um péssimo exemplo para os jogadores e um incentivo para que eles também o façam dentro do jogo.

Anónimo disse...

Resposta clara e elucidativa.
Obrigado

Ignatius disse...

Se calhar nos escalões de formação resolvia-se o problema convencendo os árbitros a fazerem uma pequena pausa em que explicavam aos jogadores envolvidos o que aconteceu, ou seja, que tinha deixado jogar a vantagem e que findo o período de tempo concedido entendeu marcar uma falta que havia ocorrido. Era uma pequena pausa, didáctica e que dava tempo para que o defensor se recolocasse.......

Anónimo disse...

Boa tarde

O problema é que nestes escalões os treinadores, dirigentes e Paizinhos e Maezinhas querem ganhar a força toda, como se fosse a final campeonato do mundo.
Depois os proprios responsaveis dizem que eles tem de ser competitivos.
Devem é formar o jogador, como jogador e Homem.

Carlos Oliveira disse...

Só, um pequeno pormenor...por defeito "profissional" e sem julgar a(s) situação, pois para isso há "catedráticos" mais capazes do que eu. No texto e/ou nos comentários, a equipa "defensora" e a equipa "atacante" devem ser substituídas por equipa "INFRATORA" e equipa "NÃO INFRATORA". Pode ser???