19 de agosto de 2016

SEVENS - QUE FUTURO EM PORTUGAL?

A época que terminou completou um ciclo de 16 anos em que o rugby português se afirmou como uma das 16 potências dos sevens do mundo, e em que venceu por oito vezes o título europeu da modalidade.

Alguns afirmam para justificar o declínio da nossa equipa, tanto na Europa como no Mundo, que os outros países passaram, a partir de 2009 - entrada dos Sevens no programa Olímpico - a investir e a preocuparem-se com os sevens, com todo o potencial de divulgação interna e afirmação internacional que eles trazem consigo.


Esta afirmação e esta perspectiva de atribuir aos outros, ao que eles fazem ou deixam de fazer, a razão do nosso próprio sucesso ou insucesso, precisa de ser desmascarada, pois é claro que não serve os interesses do rugby português, e não passa de uma artimanha para desculpar uma sucessão de equívocos e erros da nossa (inexistente) política de desenvolvimento, quer do rugby em geral, quer da variante reduzida em particular.

Na verdade a FPR nada fez (ou por vezes, pouco fez) pelo desenvolvimento dos sevens em Portugal.
E isto não de agora.

Em 1986 - 30 anos atrás - quando se começou a desenhar um dos maiores e mais importantes eventos de rugby que se realizou em Portugal, não foi fácil conseguir o consentimento da Federação para que ele pudesse acontecer, e foram caricatos alguns dos momentos que o precederam, com estultas tentativas de alguns ressabiados, em proibir a sua organização.

Mas o Lisboa Sevens foi em frente, e durante 16 anos foi uma referência do rugby português, permitiu aos jogadores e ao publico nacional conviver com grandes figuras do rugby mundial, colocou Portugal no Roteiro Internacional do Rugby, e foi um dos eventos inovadores na Europa, a par do Amsterdam Sevens, e ultrapassando em fama e nível competitivo de muito longe, o Benidorm Sevens.

Eric Rush, Rory Underwood, Andy Harriman, Gavin Hastings, Mark Thomas, Greg Osborne, Chris Sheasby, para referir apenas sete (afinal estamos a falar de sevens) das estrelas que nos visitaram nos anos 80 e 90, disputaram com as vedetas nacionais cada jogo, cada resultado, e desses encontros acabou por sair uma extraordinária geração de especialistas portugueses de sevens, como Nuno Durão, Pedro Netto, Tomás Morais, António Cunha, João Jonet, Nuno Mourão, António Moita (sete exemplos apenas, escolhidos conforme os nomes me vieram à memória, sem qualquer outro critério... tem muitos mais).

Daqueles Lisboa Sevens ficaram memórias, mas ficaram também lições, que hoje se esquecem e se minimizam, embora apenas durante algum tempo tenha havido da parte da FPR alguma preocupação com os sevens, que mais tarde se perdeu completamente.

(Serve de exemplo à preocupação da FPR a definição dos sevens como sua prioridade em 2000, que veio a permitir a participação da nossa equipa nacional em diversos torneios do Circuito Mundial, antes do estabelecimento das equipas residentes)

Foi este interesse, de que o Lisboa Sevens foi um dos principais impulsionadores, que criou as condições para o sucesso nacional no Europeu de Sevens, de que Portugal foi o grande nome durante mais de uma década.

Infelizmente além de algumas iniciativas de clubes (por exemplo o CRAV) não houve - nunca houve! - uma política articulada de desenvolvimento da especialidade, pelo que em 2009-2010, quando os sevens foram admitidos no programa Olímpico, aquela vantagem que tínhamos conquistado a partir dos finais de 1987 e que começou a dar frutos 10/12 anos depois, foi acabando, não porque os outros países tenham começado a dar atenção aos sevens, mas sim porque nós não soubemos tirar partido daquela vantagem inicial, nos perdemos na longa discussão de priorizar XV ou VII, e parámos no tempo.

Em termos nacionais as competições de sevens foram perdendo importância, a princípio pelo abandono a que foram votadas, e depois pelo abandono a que os próprios clubes a votaram.

Afinal a uma Federação não basta escrever coisas bonitas num ou noutro programa, lançar uma ou outra competição no papel - quando um organismo pretende de verdade lançar um programa para que ele seja um sucesso, existe muito mais trabalho a desenvolver, na captação de um grupo impulsionador, na importância que se dá aos eventos, nos estímulos que são criados, no apoio, no impulso, na atenção e na dedicação que se colocam ao serviço daquele projecto, daquela iniciativa.

Criar as coisas no papel, e depois esperar que elas cresçam nos campos de rugby, não existe.

FPR REDUZ ETAPAS DE SEVENS EM 2016-17
De acordo com o calendário publicado pela FPR este ano as competições de sevens serão realizadas em apenas um final de semana, o que significa que em vez de se tentar desenvolver os sevens, o que se pretende é proceder ao seu enterro definitivo.

Não que seja novidade o desprezo que uma certa pseudo intelectualidade tem em relação aos sevens, mas a situação atingiu um ponto que deixa de ser incompetência, para passar a ser má fé, e com consequências desastrosas para o rugby nacional.

Para combater o progresso que a generalidade dos países da Europa estão a implantar internamente, a FPR simplesmente reduz o calendário nacional - que já era uma miséria - e dá um golpe mortal na variante reduzida, precisamente quando acabamos de assistir ao enorme sucesso dos torneios olímpicos do Rio de Janeiro.

Para que tenham uma ideia, aqui fica um quadro do que se passou na organização das competições de sevens em Portugal, desde 2010, considerando apenas as competições da âmbito nacional e não as de âmbito regional.


Agora, com apenas um final de semana reservado aos sevens, o máximo que se pode esperar é uma etapa em cada nível, no ano passado denominados Circuito Nacional, 1ª Divisão e 2ª Divisão.

O FUTURO TEM SEVENS EM PORTUGAL?
Até à época passada, além das competições nacionais, a vida dos sevens era alimentada com a permanência no Circuito Mundial, que ocupava nos últimos anos 9 ou 10 etapas anuais, e o Grand Prix Sevens, que se desenrolou nos dois últimos anos em três etapas.
Ou seja, além dos jogos internos, os portugueses tinham pelo menos uma dúzia de grandes torneios onde eram postos à prova, onde muitas centenas de jovens jogadores deram os primeiros passos no cenário internacional.

Este ano tudo será diferente, e tudo se resumirá às etapas do GPS, já que Portugal não conseguiu sequer garantir a participação no próximo qualificativo para equipa residente do Circuito Mundial, que se realiza em Hong Kong, em Março de 2017.

Então é negro o futuro dos sevens em Portugal, e das duas uma: ou há uma reviravolta na atitude da FPR, ou resta rezar pela alma dos sevens lusitanos.

Mas nós que estivemos profundamente envolvidos nos sevens desde o seu início organizado em Portugal, com destaque para o Lisboa Sevens, não vamos facilitar a vida de um grupo de incompetentes (ou mal intencionados...) que nada se preocupam com o futuro do rugby nacional, antes parecem preocupados apenas com o seu próprio umbigo.

Então, mais uma vez, faremos aqui a descrição de uma possível via de desenvolvimento, chamando a atenção que ela foi exposta nas nossas páginas em finais de 2009, e fazendo notar que é de fundamental importância e justiça a inclusão do rugby feminino nesta via, em especial depois da sua excelente classificação para o Torneio Final de Qualificação Olímpica.


Neste quadro são consideradas competições para clubes, selecções regionais e selecções nacionais, sendo que existem hoje condições para no nível das selecções - regionais e nacionais - a organização de outras competições em conjunto com outras federações nacionais, nomeadamente a espanhola, a belga, a alemã, a italiana, e outras, que se encontram na mesma carência que Portugal.

Então, chamando aos torneios aquilo que eu lhes chamei, ou outra coisa qualquer, o que será necessário é que seja criado um grupo de trabalho, um departamento, com estes nomes ou outros, que se preocupe em organizar, incentivar, informar, impulsionar, empurrar, levar às costas, enfiar na cabeça das pessoas, fazer mil e uma coisas, por forma a que seja possível levarmos o rugby sevens a todas as cidades de Portugal, às grandes vilas, às pequenas vilas, a todo o lado onde haja uma escola, um grupo de interessados, um carola.

Portugal é um pequeno país, e no nosso caso isso pode não ser uma desvantagem, pois reduz os custos de viagem, torna os grandes centros mais acessíveis, permite uma maior troca de experiências e de ideias, promove um maior contacto entre diferentes, abre com mais força as portas do possível e do imaginário.

Então para que isto seja possível faltam apenas duas coisas.
A primeira, que os tolos que só levantam dificuldades e esnobam com a falta de pedigree dos sevens se calem, ou sejam calados;
e a segunda que se metam mãos à obra e pensem em criar soluções e não em inventar dificuldades.

Foi assim que nasceu o Lisboa Sevens, de umas mãos cheias de nada, e é assim que os sevens portugueses podem - podem sim senhor! - voltar a ter o esplendor que já tiveram, da mesma forma que noutras paragens o rugby cresce, ao princípio, sem ajudas, sem apoios e sem dinheiro.

4 comentários:

luis disse...

Completamente de acordo.
Reduzir (ou acabar com) os Sevens é praticamente um crime de lesa-desporto, designadamente depois do êxito que se viu nos Jogos Olímpicos.
Ponham os olhos no plano gizado em França, já explanado neste espaço.
E não venham com a treta de ser a França, Em tempos recentes já os vencíamos em 7's.
Trata-se apenas de lidar com a REALIDADE e não torcer esta para que alguns (poucos) se mantenham ad aeternum a dominar o rugby nacional.
Parabéns pelo artigo.

Jojo disse...

Em termos de rugby de 15 as nossas possibilidades são muito inferiores do aos sevens... por muitas e variadas razões! É claro que se os outros países trabalham e nós deixamos andar é natural que aconteça o que estamos a viver!

Duarte disse...

Não me parece que as nossas possibilidades em XV sejam muito inferiores.

A nossa verdadeira selecção de XV seria mais ou menos esta (apenas com jogadores que já jogaram pelo nosso XV):

1. Francisco Fernandes (ProD2)
2. Tadjer Barbosa (ProD2)
3. C. Spachuck (ProD2) Ou Tony Martins (Federale 1)
4. Eric dos Santos (Espoirs ProD2)
5 Diogo Torn (CDUL) ou Gonçalo Uva (Direito)
6. Aurelien Béco (ProD2)
7. Julien Bardy (Top14)
8. Vasco F. Mendes (Direito)
9. Samuel Marques (Top14)
10. Nuno P. Costa (clube 2016/17 ?)
11. Bernardo S. Cardoso (Direito)
12. Pedro Bettencourt (Espoirs ProD2)
13. José Lima (ProD2)
14. Tomás Appleton (Nat. Division 1)
15. Nuno S. Guedes (Direito)

Esta selecção teria 8 portugueses nascidos em Portugal e 7 portugueses nascidos em França (ou 6 em França e 1 argentino naturalizado).

Claro que poderia ser reforçada com jogadores como Cédric Gomes Sá (pilar do Top14), Jean de Sousa (2ª linha da ProD2) e alguns outros que são elegíveis por Portugal mas nunca jogaram pela nossa selecção.

Quanto a Michael Laranjeira (abertura da ProD2), tenho dúvidas que não seja elegível por Portugal. Ter jogado pela França Sub20 (ou Sub21) quando essa era a segunda equipa francesa apenas o tornaria não elegível se num desses jogos tivesse jogado contra Gales Sub20 (ou Sub21).

Claudio disse...

Também temos o Lobo Maxime Vaz dos espoirs do Clermont que muito jogou com a seleção o ano passado.