Hoje trazemos o testemunho de um desses portugueses, que choram quando o hino nacional toca, que se empolgam quando os "nossos" jogadores brilham, que sofrem quando as nossas cores empalidecem...
*Daniel Nicolau
Nasci em Oyonnax, terra de Rugby. Sou português, tenho 42 anos, os meus pais eram operários da “Plastic Valley”, um casal beirão pertencente à mão de obra imigrante.
O meu pai praticou halterofilia, futebol, tendo sido mais tarde dirigente da ASP Oyonnax, associação ligada à comunidade portuguesa.
Foi o meu pai que me incutiu o gosto pelo Desporto e em particular pelo Rugby.
Em casa o Torneio das Cinco Nações era sagrado
No bar do PMU vários portugueses assistiam aos jogos - os portugueses adoravam apostas hípicas -
ali se misturavam as várias comunidades. O meu pai dizia que o USO Rugby era dos franceses “de souche”, o USO Futebol era dos italianos, todas as outras comunidades tinham associações próprias.
A ligação dos jovens ao rugby fazia-se pela disciplina de Educação Física - quando chegava o inverno, já sabíamos, chegava a hora da bola oval, na lama, na neve, equipas mistas, sem medo.
Lembro-me da minha irmã Martine vencer o Torneio do Colégio Ampère com uma equipa mista que mais parecia a Selecção do Resto do Mundo, aquilo só filmado!
Estávamos no meio dos anos 80, Serge Blanco era o nosso ídolo, o intocável, meio basco, meio venezuelano, um jogador com o qual muito portugueses se identificavam.
Conheço muito bem o Estádio Charles Mathon, casa do US Oyonnax, foi aí que pratiquei atletismo na pista de tartan do Estádio, diariamente passava por lá para regressar a casa.
Ficava impressionado com os treinos, vibrava com as vitórias. Às quartas jogava rugby com os meus amigos no campo adjacente, ao longo dos anos ocorreram remodelações, novas bancadas, um piso sintético foi instalado, mas eu tenho saudades da lama...
Percebo que seja melhor para todos, perceber, percebo, mas acho que tornámos a casa mais acolhedora para os adversários, menos incómoda.
Nas camadas jovens do US Oyonnax houve sempre jovens portugueses e jovens luso-descendentes. Nos últimos anos a chegada de Maxime Tonietta ao Centro de Formação do nosso clube foi muito importante para a comunidade portuguesa e o bom desempenho do Oyonnaxien Anthony Alves tem sido outro factor muito positivo. O trabalho dos dois atletas culminou com a internacionalização de ambos pela Selecção Portuguesa.
Outro ponto a destacar, a inclusão de um internacional brasileiro e de um franco cabo-verdiano no Centro de Formação, além de outro luso-descendente: a Lusofonia sempre a dar cartas.
Em relação ao percurso do clube, o Top 14 foi sempre um sonho, uma miragem diziam muitos, mas Oyonnax tem particularidades.
Lembram-se do desfile do Maquis de 1943? Também parecia uma miragem.
*Daniel Nicolau
Nasci em Oyonnax, terra de Rugby. Sou português, tenho 42 anos, os meus pais eram operários da “Plastic Valley”, um casal beirão pertencente à mão de obra imigrante.
O meu pai praticou halterofilia, futebol, tendo sido mais tarde dirigente da ASP Oyonnax, associação ligada à comunidade portuguesa.
Foi o meu pai que me incutiu o gosto pelo Desporto e em particular pelo Rugby.
Em casa o Torneio das Cinco Nações era sagrado
No bar do PMU vários portugueses assistiam aos jogos - os portugueses adoravam apostas hípicas -
ali se misturavam as várias comunidades. O meu pai dizia que o USO Rugby era dos franceses “de souche”, o USO Futebol era dos italianos, todas as outras comunidades tinham associações próprias.
A ligação dos jovens ao rugby fazia-se pela disciplina de Educação Física - quando chegava o inverno, já sabíamos, chegava a hora da bola oval, na lama, na neve, equipas mistas, sem medo.
Lembro-me da minha irmã Martine vencer o Torneio do Colégio Ampère com uma equipa mista que mais parecia a Selecção do Resto do Mundo, aquilo só filmado!
Estávamos no meio dos anos 80, Serge Blanco era o nosso ídolo, o intocável, meio basco, meio venezuelano, um jogador com o qual muito portugueses se identificavam.
Conheço muito bem o Estádio Charles Mathon, casa do US Oyonnax, foi aí que pratiquei atletismo na pista de tartan do Estádio, diariamente passava por lá para regressar a casa.
Ficava impressionado com os treinos, vibrava com as vitórias. Às quartas jogava rugby com os meus amigos no campo adjacente, ao longo dos anos ocorreram remodelações, novas bancadas, um piso sintético foi instalado, mas eu tenho saudades da lama...
Percebo que seja melhor para todos, perceber, percebo, mas acho que tornámos a casa mais acolhedora para os adversários, menos incómoda.
Nas camadas jovens do US Oyonnax houve sempre jovens portugueses e jovens luso-descendentes. Nos últimos anos a chegada de Maxime Tonietta ao Centro de Formação do nosso clube foi muito importante para a comunidade portuguesa e o bom desempenho do Oyonnaxien Anthony Alves tem sido outro factor muito positivo. O trabalho dos dois atletas culminou com a internacionalização de ambos pela Selecção Portuguesa.
Outro ponto a destacar, a inclusão de um internacional brasileiro e de um franco cabo-verdiano no Centro de Formação, além de outro luso-descendente: a Lusofonia sempre a dar cartas.
Em relação ao percurso do clube, o Top 14 foi sempre um sonho, uma miragem diziam muitos, mas Oyonnax tem particularidades.
Lembram-se do desfile do Maquis de 1943? Também parecia uma miragem.
2 comentários:
Interessantíssimo artigo.
Resido no Norte de França, em Valenciennes perto de Lille (cujo clube foi protagonista de um triste processo que terminou com a não-promoção administrativa à ProD2 esta época), onde a expressão do râguebi não é forte. Subsiste essencialmente de boa vontade de pessoas dedicadas que mantém os clubes e as respectivas escolas em funcionamento, apesar de gritante discriminação dos apoios dados ao futebol.
Obrigado pelo testemunho.
Abraço,
Pedro Meneses
Obrigado pelo comentário Pedro.
Agradeço que me contactes através do e-mail mrrcabral@maodemestre.com
Abraço
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