26 de outubro de 2011

PROTEJA OS SEUS DENTES!

Podemos dizer que todos os jogadores de Rugby sabem da importância de utilizar protetor bucal durante os jogos; no entanto, boa parte ainda não o utiliza. Entre os que o utilizam, infelizmente a maioria só começou a usá-lo após sofrer alguma lesão(1).

O objetivo deste texto é descrever melhor os benefícios da utilização do protetor bucal, para sensibilizar mais praticantes do Rugby em relação à importância de sua utilização.
(*) Rodrigo Lima



A principal razão para a utilização de protetor bucal é a proteção dos dentes. Na Nova Zelândia o uso do protetor é compulsório em todas as ligas locais desde 1998, e um estudo (2) do impacto desta medida mostrou que o percentual de atletas que utilizavam o protetor subiu de 67 para 93% em 10 anos (de 1993 a 2003), e que este aumento na utilização promoveu uma redução de 43% nos traumas dentários.

No período estudado, foi comparado o risco de ter problemas dentários entre quem utilizava e quem não utilizava o protetor, e foi descoberto que quem não utilizava tinha um risco 4,6 vezes maior de ter problemas.

Pensando em custos, a redução de problemas promovida pela utilização do protetor gerou uma economia de 1,87 milhões de dólares neozelandeses (2,68 milhões de reais). Ou seja, o protetor protege os dentes e o bolso.

Não só os dentes são protegidos. Um outro estudo (3) mostrou que o protetor bucal diminui a ocorrência de lesões dos lábios, da mucosa oral (a “pele” que reveste a boca por dentro) e das gengivas.

Outro benefício ligado à utilização do protetor bucal é a diminuição do risco de concussão cerebral como conseqüência de traumas na cabeça. Existem estudos que confirmam esta proteção (4), outros que não confirmam (5). Mas os demais benefícios ligados ao protetor já justificariam a utilização, não?

Alguns jogadores afirmam que não utilizam o protetor por causa do custo. Em relação a isso, duas questões: 1) Existem protetores à venda no mercado por R$ 6,00 (seis reais)(N.R. No Brasil), o que está longe de ser um valor alto, mesmo para as pessoas com menor poder aquisitivo. 2) O protetor não é mais utilizado quando fornecido de graça (6), o que sugere que a sensibilização dos atletas importa mais do que o custo. N

Na minha experiência, a principal razão alegada por jogadores de rugby para não usar o protetor bucal é a suposta influência do protetor na capacidade respiratória. Alguns dizem que atrapalha, outros dizem que é uma questão de costume. Não localizei nenhum estudo específico para o Rugby, mas a influência do protetor bucal na capacidade respiratória foi estudada em outras modalidades, como o pólo aquático e o hóquei.

Como ambos são esportes de contato que exigem muito da capacidade aeróbica, como o Rugby, imagino que os resultados são relevantes para a discussão. O que descobriram (7) foi que a capacidade respiratória não foi alterada pelo uso do protetor, mas os estudos só consideraram protetores feitos sob encomenda, o que exclui os vendidos em lojas de material esportivo, ajustáveis por calor.

Falando nisso, existe um estudo (8) que confirmam que o protetor feito sob encomenda, por um dentista, protege mais do que os protetores “de loja”. Mas os protetores “de loja”, aqueles que são colocados em água quente para amolecer e serem moldados pelo usuário também são bons, protegem, e saem mais em conta do que os encomendados. Ou seja, existem opções para todos os gostos (e bolsos). O que não existe é motivo para não usar protetor bucal.

E uma última dica: considerando todas as pessoas envolvidas no universo de um jogador de Rugby, quem mais consegue influenciar o uso do protetor são os treinadores (9),(10),(11). Então, colegas treinadores, dêem o exemplo e promovam esta campanha!

Referências:
(1) Marshall SW; Waller AE; Loomis DP; Feehan M; Chalmers DJ; Bird YN; Quarrie KL. Use of protective equipment in a cohort of rugby players. Med Sci Sports Exerc; 33(12): 2131-8, 2001 Dec.
(2) Quarrie KL; Gianotti SM; Chalmers DJ; Hopkins WG. An evaluation of mouthguard requirements and dental injuries in New Zealand rugby union. Br J Sports Med; 39(9): 650-1, 2005 Sep.
(3) Onyeaso CO. Secondary school athletes: a study of mouthguards. J Natl Med Assoc. 2004 February; 96(2): 240–245.
(4) Navarro RR. Protective equipment and the prevention of concussion – what is the evidence? Curr Sports Med Rep; 10(1): 27-31, 2011 Jan-Feb.
(5) Marshall SW; Loomis DP; Waller AE; Chalmers DJ; Bird YN; Quarrie KL; Feehan M. Evaluation of protective equipment for prevention of injuries in rugby union. Int J Epidemiol; 34(1): 113-8, 2005 Feb.
(6) Zadik Y; Levin L. Does a free-of-charge distribution of boil-and-bite mouthguards to young adult amateur sportsmen affect oral and facial trauma? Dent Traumatol; 25(1): 69-72, 2009 Feb.
(7) Gebauer DP; Williamson RA; Wallman KE; Dawson BT. The effect of mouthguard design on respiratory function in athletes. Clin J Sport Med; 21(2): 95-100, 2011 Mar.
(8) Patrick D; van Noort R; Found M. Scale of protection and the various types of sports mouthguard. Br J Sports Med. 2005 May; 39(5): 278–281.
(9) Gardiner DM; Ranalli DN. Attitudinal factors influencing mouthguard utilization. Dent Clin North Am; 44(1): 53-65, 2000 Jan.
(10) Ranalli DN; Lancaster DM. Attitudes of college football coaches regarding NCAA mouthguard regulations and player compliance. J Public Health Dent; 55(3): 139-42, 1995.
(11) Ranalli DN; Lancaster DM. Attitudes of college football officials regarding NCAA mouthguard regulations and player compliance. J Public Health Dent; 53(2): 96-100, 1993.

(*)TEXTO: Rodrigo Lima (médico, colaborador da Associação Pernambucana de Rugby, treinador do Casa Amarela Rugby (Recife-PE) e sempre que pode corre atrás da ovalada); para interagir: rblima@gmail.com; @rodrigo_blima

FOTO: Guto Senra/Rugbymania


Nota: Versão original do texto.

4 comentários:

José Lopes disse...

Agradeço esta publicação e sugiro que, também, em Portugal se torne mandatória a utilização da protecção bucal e para os mais jovens o capacete.

Anónimo disse...

Completamente de acordo.

Protetor bocal e capacete obrigatório nos escalões jovens.

Guto Senra disse...

A molecada precisa engrossar bem o parachoque de grilo e tais cuidados são fundamentais para a boa prática do esporte.

Rodrigo Lima disse...

Fico satisfeito com a repercussão do texto. Peço que divulguem a quem puderem. Abraços!