14 de agosto de 2014

O RUGBY FEMININO EM PORTUGAL NA ORDEM DO DIA *

*Pedro Sousa Ribeiro
A participação feminina nas ultimas três épocas tem manifestado uma tendência para um ligeiro crescimento ( 445 inscritas em 2011/2012, 461 em 2012/2013 e 465 em 2013/2014 ) representando cerca de 7% do total de inscritos na FPR.

Em Julho de 2013, num texto que escrevi, dizia :
“Para que o rugby feminino se continue a afirmar e a desenvolver urge estabelecer um plano estratégico tendo com objetivo passar de 7 a 20% a percentagem do sexo feminino no universo global de praticantes em Portugal".

Como o alcançar eis a questão ?

Ainda não está ultrapassada a ideia que o rugby é só para homens, mesmo em alguns importantes
decisores do rugby português, mas essa postura tem vindo a diluir-se, principalmente pelo exemplo de grande empenho e participação das atuais praticantes.
É importante combater esse estigma mostrando claramente que o jogo de Rugby é para ambos os sexos.

Com um pouco mais de 300 jogadoras nos escalões Sub-18 e Sénior há cerca de 15 equipas a
participaram regularmente nas provas organizadas pela FPR, mas destas, apenas quatro ou cinco dispõem de jogadoras em número superior a 15.
Nos escalões jovens, até Sub-16 inclusivé, há cerca de 140 jogadoras registadas na FPR.

Há pois que repensar a estratégia futura.

Para se chegar à percentagem de 20% acima indicada é importante estabelecer um plano de desenvolvimento com o objetivo de promover o rugby feminino, designadamente na variante sevens, tentando mesmo captar jogadoras com experiência noutras modalidades a exemplo do que vem a acontecer em diversos países, utilizando como forte argumento a possível participação numa equipa olímpica.

Num plano a médio prazo, teremos que apostar nos Sevens, sem no entanto abandonar o rugby XV, tal como é preconizado no “ IRB Strategic Plan “.

Num tal plano há que apostar essencialmente em três áreas :
- promoção e divulgação
- formação de quadros técnicos
- estrutura competitiva

Depois do excelente 6º lugar obtido pela Seleção de Sevens no campeonato da Europa, a nova época vai começar com a participação dessa mesma seleção no torneio de qualificação para as IRB Women’s Sevens Series, que se realiza em Hong Kong em 12 e 13 de Setembro.
Espera-se que, de novo, a sua participação nos traga motivos de satisfação.

Também em 13 e 14 de Setembro Portugal irá participar no 1º torneio europeu de Sevens Sub-18 que se realizará na Suécia.
Noutra vertente, em Agosto próximo, vai disputar-se em Paris o Campeonato do Mundo de Rugby Feminino com a participação de 12 países e que será certamente uma boa montra para a promoção do rugby feminino na sua versão de XV.

Não preconizo, de momento, a participação de Portugal em torneios europeus de XV, mas estaria confiante numa boa participação num 2º nível europeu, se acaso fosse esse um dos objetivos.

Internamente nada se sabe sobre a estrutura competitiva para a nova época o que mostra uma certa indefinição sobre que caminhos prosseguir.

Creio que a variante Sevens deverá ter preponderância mas sem abandonar os XV, seguindo aliás as indicações da IRB no seu plano estratégico.
Sendo os XV a matriz de referência do rugby não a poderemos descurar sob pena de alienar um conjunto de jogadoras sem aptidões físicas que as vocacionem para os Sevens ou apetência pela sua prática.

Continuo a pensar que de meados de Novembro a fins de Março, por razões climáticas, não se deve organizar torneios de sevens. Esta variante, necessita de tempo não invernoso para não ser penosa a sua prática.

Assim poderemos estruturar a época em 3 partes :

Na 1ª parte da época, até meados de Novembro competições de Sevens, seguido de uma época de Rugby XV ( ou XIII, como etapa intermédia ), e com a eventual constituição de equipas mistas de mais que um clube, ( na passada época havia sete clubes com um mínimo de 20 jogadoras dos escalões Sub-18 e Seniores ) terminando novamente com Sevens, desde fim de Março a meados de Junho.

Na parte intermédia da época, e para os clubes, que não quiserem ou puderem associar-se, organizar-se-iam torneios rugby “tens”, tendo como objetivo a transição para o XV.

Assim não se alienaria uma percentagem significativa de jogadoras cuja estrutura física não se coaduna com a prática exclusiva dos sevens nem se revêm apenas nesta variante. Não se pretende de modo alguma perder praticantes mas sim aumentar o seu número o que poderá acontecer, se as competições se limitarem exclusivamente a Sevens, como alguns defendem.

Por outo lado existe uma lacuna a preencher: até ao escalão Sub-14 a prática do rugby é mista, isto é as raparigas e rapazes integram as mesmas equipas, mas o rugby sénior feminino inicia-se pelos 17 anos. É portanto vital preencher esse espaço com competições Sub-18 que incluiriam praticantes desde os 14 aos 18 anos.

No âmbito internacional a posição atual no ranking europeu, 6º lugar, é muito lisonjeira se considerarmos a realidade portuguesa.
Mas as nossas jogadoras demonstraram, no recente campeonato europeu, que tecnicamente se encontram ao nível das melhores equipas europeias.
Para uma melhor performance precisam de um maior contato internacional e de adquirirem uma maior capacidade física.
A posição obtida no campeonato da Europa possibilitou não só manter os Sevens Femininos no projeto olímpico Rio 2016 mas até reforçá-lo.

As verbas disponíveis nesse projeto deverão possibilitar, no âmbito da estrutura da alta competição da FPR, o reforço da componente dedicada ao rugby feminino, trabalhando com um conjunto de cerca de 20 praticantes que, num regime de voluntariado, a isso se disponham.
E proporcionar a esse grupo a participação em alguns torneio de sevens que por essa Europa fora se disputam.

Só assim poderemos aspirar a manter ou mesmo melhorar a nossa posição no ranking europeu e a, no futuro, participar nas competições europeias de rugby XV.

O rugby feminino em Portugal, é já uma realidade indiscutível e tal como em muitos países do mundo tem vindo a expandir-se, cabendo à FPR definir politicas que consolidem essa afirmação e expansão.
 

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem feito o artigo mas utópico quanto aos objectivos. Atingir 20% só se for pela diminuição dos masculinos, que aliás vai acontecer. O número total não diminui porque as escolas vão continuar a aumentar como forma de angariação de fundos e nunca numa prespectiva de aumentar o número de clubes. Ainda este ano a Federação acabou com as equipas BB e prepara-se para aumentar exponencialmente os seguros, sem ouvir os clubes, os verdadeiros prejudicados. De resto o rugby feminino é em Portugal um bocadinho como os ranchos folclóricos e as bandas. Muita juventude a manter essas associações de pé, mas depois aos vinte anos por falta duma verdadeira cultura essa juventude vira-se mais para.... os copos (discotecas). Por isso, dar o salto no rugby feminino dos Sub-18 para os seniores é um verdadeiro problema que quanto a mim só poderá melhorar se os quadros federativos forem alterados. Não digo que os técnicos sejam maus, mas a política é péssima e está tudo virado para as selecções, vulgo passeatas por todo o mundo. Urgente mudar, porque pior nunca ficará.