29 de outubro de 2009

ELEIÇOES SEM CANDIDATOS

A eleição de delegados à Assembleia Geral, representantes dos praticantes, árbitros e treinadores, marcada para sábado, vai eleger apenas, nove dos 29 delegados previstos nos novos Estatutos da FPR e no respectivo Regulamento Eleitoral.

Acompanhei com atenção todo este processo, que representa o primeiro acto fundamental realizado após a aprovação dos novos Estatutos.

Desde cedo fiquei preocupado com as exigências que eram feitas ao conteúdo daqueles Estatutos, por forma a adequá-los ao novo regime jurídico das federações desportivas, e à forma como a comunidade reagiria a mudanças tão profundas.

Infelizmente parece que as minhas preocupações tinham razão de ser.


Não vou agora dissecar os ditos Estatutos – a hora e o local para isso ter sido feito, já passou – vou apenas fazer algumas perguntas sobre o que está a acontecer, já que, bons ou maus, é com estes Estatutos que temos que viver, e é deles que temos que tirar o melhor partido e fazer o melhor aproveitamento, para as mudanças que o rugby português vai sofrer nos próximos tempos.

Vejamos:

Os praticantes deviam eleger 14 delegados, e vão apenas eleger dois...Porquê isto? Será que os jogadores estão quase completamente desinteresados sobre os destino do orgão que dirige a modalidade, em última análise, o orgão que decide sobre aquilo que eles – os praticantes – praticam? Como interpretar que para os dois delegados previstos para serem eleitos entre os jogadores internacionais em actividade, não tenha aparecido nenhuma lista candidata? Não existem, entre todos aqueles que contam com mais de 10 internacionalizações, entre jogadores das seleções de sevens e de XV, dois, apenas dois, que estejam preocupados com o futuro do rugby em Portugal?

Então e que dizer dos previstos 11 delegados representando os jogadores inscritos nas competições seniores? Não existem três conjuntos de interessados, um conjunto com quatro interesados entre todos os que disputam a Divisão de Honra, outroconjunto com outros tantos, entre os que disputam a 1ª Divisão, e outro conjunto ainda, com mais três dos que disputam a 2ª divisão?

Então e amanhã? Quem vai dizer, aos que agora não se interessaram no processo, para não reclamarem com o que vier a acontecer com as competições, com as seleções nacionais, com os subsídios, com tudo, no final de contas? Porque afinal, foram eles, os praticantes, que não quiseram tomar nas suas próprias mãos, os destinos da Federação. E quem agora se alheou, não pode amanhã reclamar, nem fazer valer a sua voz. E o peso destes 13 elementos não é de desprezar, pois representam mais de 12% do total de delegados que irão compor a Assembleia Eleitoral da FPR, número suficiente para fazer pender o resultado das eleições para os Orgãos Sociais, para um lado ou para o outro.

O mesmo vale para os treinadores, que prescindiram voluntariamente de eleger sete delegados à Assembleia. Não venham amanhã dizer que não há apoio para a formação, que não existem cursos disto, ou cursos daquilo.

Resumindo, faço a última pergunta: Jogadores e Treinadores não se interessam mesmo pelos destinos do rugby, ou a mudança estrutural na organização da modalidade carecia de mais tempo e explicação para ser entendida, por todos e por cada qual?
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1 comentário:

SSREF disse...

Caro Manuel Cabral

Partilho quer da sua preplexidade quer da sua preocupação. Tanto mais que sei que estava em andamento a formação de uma associação de jogadores da qual nunca mais se ouviu notícia.

Também considero estranhíssima a escolha (essa considero mais reflectida e portanto intencional) da não participação dos treinadores nas decisões da FPR.

Os árbitros têm, tradicionalmente, mais necessidade de se fazer representar não só para defenderem as suas posições mas também para assumirem "o outro lado do rugby" que não os clubes! Historicamente sempre estivemos presentes e sempre nos fizemos ouvir. Talvez por isso tenhamos hoje mais e melhores árbitros, que acompanham mais e melhor as várias gerações de jogadores, que jogam num nível cada vez melhor!

Toda esta preplexidade tem, para mim, duas leituras distintas, ambas preocupantes:

Ou assistimos apenas a mais uma manifestação do desinteresse da participação societária (eleições políticas, participação cívica, etc.) em que a sublimação do EU se sobrepõe ao NÓS, radicando na descrença geral na associação de pessoas para fazerem valer os seus interesses comuns, ou então há já um enorme desencanto e falta de crença no actual quadro de tomada de decisão federativo, ao ponto de se ter tornado repulsivo. Este último, a ser verdadeiro, obriga agora os demissionários a proporem outra solução para o governo do rugby, crendo eu que ninguem aqui defende a vacatura de poder, que antigamente se conhecia por anarquia.

Sempre se reconheceu no rugby o seu carácter conservador, nunca se lhe reconheceu um carácter infantil e leviano, que parece estar a adquirir com este processo.

Estou, por isso, em sintonia com a sua preocupação para o nosso futuro próximo comum.

Tiago Sousa e Silva
Presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Rugby - ANAR.