24 de outubro de 2009

A VOZ DOS SEVENS E AS OLÍMPIADAS

Nigel Starmer-Smith
"A Voz de Sevens" não carece de grandes apresentações.
Médio de formação dos Harlequins, da Universidade de Oxford e da Inglaterra, na década de 1960 e 1970, comentador da BBC durante 25 anos, apresentador do Rugby Special durante 15 anos, editor da revista Rugby World por 10 anos, comentarista das Séries Mundiais de Sevens, desde seu início. Tendo assistido a milhares de jogos, a experiência de Nigel nos Sevens internacionais, é incomparável.
O texto que hoje apresentamos, publicado recentemente no site especializado em Sevens, Ultimate Rugby Sevens, dá-nos uma visão clara sobre a falsa questão Rugby Sevens-Rugby de XV.

O RUGBY SEVENS DERRUBA BARREIRAS
Fiquei, recentemente, chocado, embora não surpreendido, ao assistir à forma miserável como um dos nossos mais importantes jornalistas de rugby, comentou o novo estatuto olímpico do Sevens. Atribuo essa atitude a uma mistura de ignorância e interesses pessoais pelo Rugby de XV, em sintonia com algumas Federações Nacionais.
Nos mais de sessenta torneios das Séries Mundais da IRB a que assisti, ao redor do mundo, nos últimos sete anos, posso contar pelos dedos de uma mão, o número de jornalistas de rugby de topo, e luminares das "grandes Federações" que foram, pelo menos, a um torneio mundial de Sevens. Aqueles jornalistas e aquelas Federações falharam, ao não reconhecerem a necessidade de motivar os jovens, e cativá-los a participarem do jogo do Rugby. Principalmente numa altura em que a pedra basilar do jogo, os pequenos clubes, já não são capazes de reunir o mesmo número de jogadores ativos, e o mesmo número de equipas, de vinte anos atrás. Em vez disso, parece que a obsessão tem sido a de promover o espectáculo através do afluxo de enormes meios financeiros, mantendo, assim, viva, a estrutura dos clubes profissionais.
Mais significativo ainda, é o facto dessas mesmas pessoas não entenderem a necessidade de considerar o sucesso e expansão mundial do Rugby, como um todo. "O rugby deve cuidar dos países em desenvolvimento, para que eles tenham uma chance de ganhar um Campeonato do Mundo de Rugby de XV", disse recentemente um jornalista. Parece bom, mas caiam na real! Não há, num futuro próximo, a mais remota possibilidade de que isso aconteça, a menos que, primeiro, se atraiam novos recrutas para o jogo, nos países em "desenvolvimento". A questão fundamental é atrair e manter, em todo o mundo, os rapazes e raparigas, os homens e as mulheres, com um par de botas calçadas e a jogar Rugby.
E é neste aspecto que o Sevens mete os XV num chinelo.
O Rugby Sevens já é um desporto global, no qual o Quênia pode vencer a Nova Zelândia, as Ilhas Cook podem derrotar a Inglaterra e os E.U.A. podem bater as Ilhas Fiji. E porquê? Pela atração que o Sevens exerce, por isso mesmo: porque cada país tem "uma chance", porque cada país é, ou pode rapidamente tornar-se, competitivo a nível internacional. É aqui e agora, e não num sonho distante, na próxima geração: O Rugby Sevens torna o sonho em realidade.
E com a inclusão do Rugby Sevens no calendário olímpico, aguardem e vejam a evolução que esses países "em desenvolvimento" irão sofrer durante os próximos sete anos. O espectador é atraído pela simplicidade da variante: assistir primeiro e depois jogar - é o ás de trunfo do Rugby Sevens. A relativa facilidade com que se pode reunir uma equipa de Sevens, em oposição ao que acontece com o Rugby de XV, é bastante óbvia, seja no jardim do bairro, no Michigan ou em Minsk, nos espaços baldios de Kampala ou de Colombo, ou nos palmares da Tailândia ou de Tonga. Por outro lado é um jogo fácil de assistir e de aprender, e a sua essência é a alegria de correr, passar a bola e marcar ensaios. São estas características que o distinguem. Claro está que os especialistas das técnicas das formações, dos alinhamentos, dos sistemas defensivos, e assim por diante, virão mais tarde, mas os fundamentos permanecem - atacar, correr e passar. O Rugby de XV é muito mais complexo e cada vez mais, o sucesso em campo está ligado à presença física, à força e ao poder dos seus jogadores. Estas qualidades são dignas e respeitáveis, e, em certa medida, também são necessárias no Sevens, mas de qualquer maneira falta a “atração fatal” das habilidades mágicas de um Serevi, de um Uale Mai ou de um Ben Gollings. A inclusão do Rugby Sevens no programa dos Jogos Olímpicos, e a grande visibilidade que irá acompanhá-lo, trará enormes benefícios, durante toda a próxima década, e não apenas para o Sevens.
Temos de tirar as vendas dos olhos para termos uma perspectiva global.
Com o Rugby de XV sendo, muitas vezes, uma perspectiva assustadora para muitos rapazes e raparigas, pais e professores, torna-se fácil passar, do Rugby Tag e do Rugby-de-Toque, para o Rugby Sevens, separados em classes e grupos etários, com competições e outros eventos inter-escolares. Da mesma forma, a chance de competir numa Olimpíada, e ainda por cima com a possibilidade de ganhar uma medalha, vai certamente acender o fogo do entusiasmo e do empenho de milhares e milhares de jogadores, e, certamente servir de inspiração aos dirigentes das Federações Nacionais de Rugby. Como em todos os desportos, participar é o mais importante. E quando chegar a altura de subir ao pódio para receber as medalhas de Sevens, poderá ser Samoa ou Portugal, no caso dos homens, ou talvez o Brasil ou o Cazaquistão nas mulheres, a comemorar um feito raro ou inédito, na história dos Jogos Olímpicos. O Sevens está agora, por direito próprio, no centro das atenções desportivas. A próxima temporada das Séries Mundiais da IRB, e, eventualmente, os torneios de qualificação para os Jogos Olímpicos, trarão um novo foco e aumentarão ainda mais o interesse mundial no Rugby. Esperemos que o Rugby Sevens seja finalmente reconhecido por aquilo que ele é. Um desporto brilhante, com técnicas específicas e jogadores especializados, e não apenas um espectáculo acessório do Rugby de XV, um trampolim, um “divertimento divertido" como certo jornalista, do alto da sua soberba, recentemente escreveu. Adeptos mais tradicionalistas podem ter medo, por razões egoístas, do aumento que se vai verificar, no interesse do público, pelo Rugby Sevens. Não há razão para isso. O desenvolvimento do Sevens continuará a trazer novos recrutas para o Rugby em geral, por todo o mundo.
O presidente da IRB, Bernard Lapasset, afirmou esta semana que, provavelmente, não demorará muito, a nível internacional, até que as Federações organizem seleções separadas para o Rugby Olímpico e para o Rugby de XV.
Mas lembrem-se, ambos são Rugby. Assim como o Voley de praia e o Voley de quadra fazem parte do mesmo desporto, uns vão preferir o Rugby Sevens, e outros o Rugby de XV, mas todos continuarão a gostar de jogar e assistir a um e ao outro, como acontece comigo.

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