* PGS
Juntando a conquista da Taça de Portugal ao Campeonato, o Belenenses é o destaque do ano, seguido de perto pelo Montemor.
Apesar dos seus vários problemas - já lá iremos - a fase final do Campeonato Grupo A, que reuniu as cinco primeiras qualificadas da primeira fase, compensou largamente em emoção algum défice de qualidade geral.
Até à entrada para a última jornada, a maioria dos jogos teve resultados apertados, por vezes obtidos nos últimos minutos, o que rendeu a obtenção de vários pontos de bónus que se viriam a revelar decisivos. CDUL, Belenenses e Montemor, chegaram a este ponto todos com três derrotas e com hipóteses de sagrar campeões.
A derradeira jornada, incompreensivelmente jogada em dias diferentes e com uma das equipas envolvidas na discussão do 1º lugar sentada na bancada, impotente, em virtude de folgar, viria a "consagrar" primeiro o Montemor. A equipa alentejana venceu com bónus atacante em Cascais (7-34), o que desde logo liquidou as hipóteses matemáticas que o CDUL tinha e colocou pressão extra no Belenenses.
Os azuis de Belém tinham desvantagem em caso de igualdade com o Montemor o que os obrigava a vencer com ponto de bónus o seu adversário da mesma jornada, a Agronomia, um adversário que os azuis ainda não tinham conseguido bater durante a competição. Contudo, o jogo só seria disputado dois dias depois e os rapazes de Belém chegaram à Tapada determinados e com o objectivo muito bem definido. Perante muito apoio, não vacilaram, cumpriram na perfeição o seu game plan, venceram (14-39) e, no final, celebraram a conquista do campeonato.
Montemor e Belenenses viriam a encontrar-se na final da Taça de Portugal para um tira-teimas do qual saiu vencedor a equipa de Belém por 7-0 que assim fez a "dobradinha".
AS EQUIPAS
À partida fora do lote dos favoritos para a vitória na competição máxima do calendário nacional, em parte devido à má classificação no campeonato transacto (9º lugar em 10 equipas), a equipa do Belenenses soube ao longo da época crescer a vários níveis e ir ultrapassando adversários. Terminou a primeira fase em 1º lugar e, na fase final, oscilou, tremeu... mas no momento decisivo mostrou os seus predicados e acabou por cima. Algo que praticamente repetiu no percurso na Taça. Tirou partido da mobilidade e velocidade dos seus avançados, foi agressiva na defesa (o que lhe valeu várias penalidades e 39 pontos contra, mas permitiu matar muito jogo longe da sua "área de crise" e recuperar muitas bolas) e apresentou boas soluções nos médios e nas linhas atrasadas. Foi a equipa mais equilibrada entre sectores.
Os alentejanos de Montemor-o-Novo terminaram a época a sorrir com a vitória no Circuito Nacional de Sevens, depois de por duas vezes terem "morrido na praia": na Taça, onde foram finalistas, e, principalmente, no Campeonato onde, depois de uma grande recuperação, um magro ponto de bónus fez toda a diferença desequilibrando a balança a favor da equipa de Belém. Mais limitada de recursos do que qualquer uma das outras equipas que participaram na fase final, a boa performance do Montemor deveu-se em parte ao espírito de equipa e de sacrifício, traduzido na permanente atitude e concentração defensiva e na luta por todas as bolas, onde o poder dos seus avançados lhes fez ganhar quase sempre as batalhas na zona de contacto.
O CDUL começou a época como um dos favoritos à conquista do título, durante quase toda a época fez jus a esse estatuto, a equipa mostrou ser, juntamente com o Belenenses, uma das mais equilibradas entre sectores e com melhor circulação de bola, mas duas derrotas com o Montemor na fase final comprometeram muito o objectivo. Para "lá" chegar seria necessário alentejanos e belenenses falharem na última jornada enquanto os universitários folgavam e assistiam na bancada. Não falharam, o CDUL viu-se relegado para a 3ª posição final, a dois pontos do Montemor e três do campeão, e a época terminou em pesadelo com o afastamento na Taça por números pesados e uma presença muito modesta no circuito de Sevens.
O Cascais, depois de ter conseguido apurar-se in extremis para a fase final, terminou o campeonato em 4º lugar, posição a que se junta um 2º lugar no Circuito Nacional de Sevens e uma saída prematura da Taça. Um conjunto de resultados que não envergonha a equipa da linha, mas que não evita a sensação de que, com o potencial existente, poderia ter chegado mais longe. Privilegiaram quase sempre o jogo fechado, de contacto e combate, através dos avançados, o que lhes granjeou algumas vitórias, mas deram poucas oportunidades aos seus três-quartos, o que pode ter-lhes custado outras tantas.
A Agronomia começou também como um dos favoritos à conquista do Nacional, mas a irregularidade das exibições e dos resultados foi condicionando a obtenção dos objetivos até caírem no 5º lugar no campeonato e saírem da Taça nos quartos-de-final. Capazes do melhor e do pior - por vezes dentro do mesmo jogo -, terminaram a época sem mostrar um plano de jogo consistente e, estranhamente para as equipas da Tapada onde tantas vezes o colectivo é a sua força, estiveram quase sempre excessivamente dependentes da inspiração de um jogador.
Quanto às restantes equipas que participaram no Nacional Grupo A, o Direitoperdeu para o Cascais a corrida ao top-5 e com isso pareceu perder também a motivação para o resto da época (terminou no 8º lugar) apesar de, numa amostra de potencial e assomo de honra, terem estado perto de eliminar o Belenenses numa das meias-finais da Taça. O CDUP, apesar do imenso desgaste causado por tantas deslocações, foi subindo de produção ao longo da época terminando em 1º lugar no grupo dos não-apurados (6º na geral) e como semi-finalista derrotado na Taça, mostrando que o que precisa é de mais competição porque potencial e alguns talentos tem. O Técnico mostrou algumas qualidades "à Técnico" e, na fase dos não-apurados, ultrapassou o Direito, reclamando o 7º lugar. A Académica e o Benfica discutiram entre si durante toda a época a fuga ao último lugar, com os estudantes a conseguirem alcançar o objectivo.
OS PROBLEMAS
O modelo de disputa do Grupo A do campeonato, com a participação de 10 equipas, revela alguns problemas. Para começar, a primeira fase, que apura cinco equipas "para cima" e outras cinco "para baixo", é disputada entre todos, mas apenas a uma volta, o que levanta desde logo reservas sobre a equidade e "justiça" do modelo.
Vejamos as disparidades e consequências: para além das inerentes à localização geográfica de CDUP e Académica que as obriga a constantes deslocações - mas quanto a isso não há muito a fazer - o sorteio ditou que, por exemplo, o Benfica fizesse todas as deslocações possíveis para uma equipa de Lisboa (ao Porto para defrontar o CDUP, a Coimbra para jogar com a Académica e a Montemor-o-Novo) e, no outro extremo, o Cascais... nenhuma. Os cascalenses - que não têm rigorosamente culpa nenhuma no assunto - o mais longe que foram foi à Sobreda da Caparica. Isto, relembra-se, numa fase a uma única volta, o que originou também, por exemplo, que o Direito tivesse jogado fora com 4 das 5 equipas apuradas para o top-5, incluindo uma partida decisiva, na última jornada, em Cascais.
Mas há mais...
Outro problema é a consequência de, na fase seguinte, se organizarem grupos de cinco em que, em todas as jornadas, uma equipa folga. Os "buracos" originados pelas jornadas de folga retiram ritmo competitivo às equipas, particularmente quando as folgas estão "encostadas" a pausas na competição por outras razões.
Ainda no Grupo A, as equipas não-apuradas são "condenadas" a disputar, agora sim a duas voltas (ou seja, durante meia-época), uma fase em que praticamente nada está em jogo. Quanto muito, a fuga ao último lugar a à eventual despromoção, mas nem isso é certo.
No Grupo B - ganho pelo CRAV, com Agrária de Coimbra a finalizar em 2º lugar - também se registam problemas. Por exemplo, nas zonas Lisboa/Sul há equipas que dão faltas de comparência ou desistem (por não conseguirem reunir número suficiente de jogadores, por dificuldade de meios para se deslocarem, etc.) e deixam as restantes à míngua de jogos, há equipas que se apresentam com uma manta de retalhos ("x" jogadores Sub-16 + "y" do escalão Sub-18 + "k" do escalão Sub-14) e uma houve que abdicou de disputar a última fase para, em vez disso, disputar a "Taça de Lisboa", uma competição semi-oficial organizada à pressa a meio da época para dar jogos às equipas "B" (quase totalmente constituídas por jogadores Sub-16 "de primeiro ano") e permitir-lhes dessa forma crescerem.
Ou seja, em vez de regularidade competitiva, o que há é quase uma incerteza constante sobre quando será o próximo jogo.
Como se pode planificar/periodizar uma época assim? Como se mantém jogadores e equipas motivados? Como é possível fazer evoluir a maioria destas equipas que, lembra-se, estão imediatamente abaixo das dez que constituem o Grupo A?
AS SUGESTÕES
O escalão de Sub-16 é o primeiro em que se disputa um campeonato nacional propriamente dito. É, por essa razão, um escalão de transição. A idade e estados de maturação dos intervenientes, o ciclo de dois anos próprio do escalão e a fase do player development em causa tem que exigir dos responsáveis e decisor(es) da entidade que organiza (FPR) atenção e cuidado adicional sob risco de condicionar o desenvolvimento e a evolução dos jovens atletas e continuar a nada ser objetivamente feito para combater o abandono de jogadores.
Estude-se a melhor forma de criar níveis de competição equilibrados, crie-se torneios ou mais provas, dê-se objetivos pelos quais lutar e garanta-se jogos com regularidade para todos, e estamos em crer que tanto no desenvolvimento como na retenção de jogadores se conseguirá obter resultados positivos.
Soluções mágicas não há, mas acreditamos que há melhores e menos problemáticas opções do que o actual modelo.
Para começar, experimente-se descolar do modelo dos seniores (10 equipas? Grupos de 5? Porquê?) e aproximá-lo mais do que vem sendo utilizado nos Sub-14. Depois, pense-se em ativar uma nova competição, por exemplo um torneio ou campeonato Regional ou Inter-regional, que poderá inclusive funcionar como fase de aferição ou de qualificação para o Campeonato Nacional.
Finalmente, lembre-se as equipas emergentes que não conseguem reunir 25-30 jogadores para disputar provas de Rugby de 15, mas que, apesar de passarem uma época a treinar para quase nada, conseguem ainda agregar 10 a 15 jogadores. Se nada for efetivamente feito a pensar nestas equipas, mais tarde ou mais cedo irão desmotivar-se, implodir e potencialmente levar os respetivos clubes a fechar as portas. Então, porque não criar um circuito ou torneio anual de Sevens onde poderão (ou não) também participar equipas "B" ou "C" dos clubes com maior número de praticantes?
Ficam aqui as nossas sugestões para o futuro. Quanto ao presente, a época terminou e o Mão de Mestre dá os parabéns a todos os envolvidos (jogadores, treinadores, team managers, etc) de TODOS os clubes.
O regresso está marcado para Setembro. Até lá, boas férias!
PGS
6 comentários:
Quem é que escreve este artigo?
Quero dar os parabéns por este excelente artigo que mostra claramente a urgência em alterar já na próxima época o modelo competitivo para os escalões de sub16 e sub18. Espero que a federação não continue a sua onda de destruição e perceba a necessidade em alterar o processo de constituição dos grupos A e B no campeonato nacional de rugby de XV. A proposta de uma primeira fase regional e um posterior apuramento nacional parece ser a solução mais acertada. Não faz sentido o actual modelo onde uma "fornada" de bons jogadores, com grande ritmo competitivo e presença regular na selecção, possa ser relegada para um grupo B por culpa de uma geração anterior. Isto só contribui para o abandono da modalidade ou fuga de jogadores para outros clubes, enfraquecendo assim as equipas que mais necessitam de ser apoiados e estimuladas. Se não queremos reduzir o rugby nacional de qualidade a 4 ou 5 clubes há que mudar urgentemente.
Excelente ideia
Excelente artigo. Precisamos de pensamento positivo, opiniões diversas, e que os decisores federativos as analisem ponderando devidamente as diversas opiniões
Concordo com a sugestão para o modelo competitivo, parecendo-me mais equilibrado e ajustado à realidade do que o atual.
No que respeita às equipas, parece-me que a análise é sucinta e reflete de um modo geral os aspetos principais. Pela primeira vez estive ligado ao escalão Sub 16 e face aos aspetos técnicos que algumas equipas dominavam na época passada no escalão Sub 14, quer indivíduais, quer coletivos, confesso que esta época fiquei de algum modo desiludido, parecendo-me que muito se pode fazer para melhorar. Temos excelentes miúdos em todos os clubes, outros por ai andam "à espera" que os vamos buscar, pelo que, estou convicto que muito se pode fazer para melhorar num escalão tão importante como este.
Como já é mais que sabido nada de bom se pode esperar da actual direcção da Federação. Mais uma vez, manipulam-se os regulamentos, ignora-se a realidade desportiva e os apelos dos clubes.
Assim, a Federação no seu habitual registo incompetente acaba de comunicar que tudo se irá manter nos escalões de sub16 e sub18.
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