16 de julho de 2009

A LÍNGUA

Esopo era feio, gago e corcunda. Além disso era escravo. Um dia o seu Amo resolveu testar a sua inteligência e mandou-o ao mercado, com uma bolsa de moedas, para comprar o que de melhor por lá houvesse. Esopo foi, e voltou carregando um lindo prato onde repousava uma enorme língua. E foi dizendo que a língua era a melhor coisa do mundo. Com ela se diz “amo-te”,com ela se elogia, com ela se incentiva, com ela se beija, com ela se degusta uma iguaria... Seu Amo quis então testá-lo de novo, e o mandou agora comprar o que de pior houvesse no mercado. Com nova bolsa de moedas, Esopo foi, e de lá trouxe um lindo prato enfeitado por uma enorme língua... Seu Amo não gostou da brincadeira, mas Esopo logo foi dizendo que com a língua se diz “odeio-te”, com ela se calunía, com ela se morde, com ela se cospe, com ela se dizem as maiores barbaridades... Ela é a pior coisa do mundo! No meio de uma geral e merecida pausa que as férias proporcionam a todo o mortal - com a maior parte dos blogs rugbísticos mais ou menos adormecidos, com pouco a comentar depois da viagem dos British Lions, e o encerramento anunciado da atividade em Portugal - apenas desafiada pela participação das seleções nacionais de sevens, masculina e feminina, no Campeonato da Europa, surgiu mais uma falsa polemica, infelizmente lançada por quem não tem coragem de se identificar e defender os seus pontos de vista à luz da liberdade de expressão, de que felizmente beneficiamos. Não vou comentar as afirmações feitas a coberto do anonimato, já que não quero alimentar conversas com desconhecidos, mas não posso deixar de aconselhar esses “coisos” a terem cuidado com a língua.... Vou apenas fazer alguns comentários sobre a participação daquelas seleções nacionais, defendendo claramente os meus pontos de vista. Está visto que ninguém pode ter ficado satisfeito – a começar pelos nossos jogadores e técnicos - com o resultado final da equipa masculina, um sétimo lugar a que não estávamos habituados nesta competição. Mas pensem assim: o que é mais estranho? Ser sétimo numa competição européia de nações, ou ser campeão da Europa nessa mesma competição por uma, por duas, por três vezes?! Afinal não passamos de um pequeno país procurando encontrar uma identidade desportiva, que encontrou nos sevens terreno fértil para cultivar a sua imaginação e, esporadicamente, alimentar o seu ego. Mas que pode ir muito mais longe, se entendermos que é necessário planificar, sistematizar e investir. Muito já foi feito, e muito se deve àqueles que hoje estão envolvidos na atividade internacional, como jogadores ou como técnicos, como administrativos ou organizadores, ou ainda como fisioterapeutas ou médicos. Mas não só estes são responsáveis pelos êxitos conquistados, ou pelos desaires sofridos. Na verdade é um trabalho conjunto, em que todos estamos envolvidos, quando trabalhamos nos clubes ou nas associações, ou quando nada fazemos senão falar e criticar. Não, não julguem que isto é poesia! É apenas a verdade. Porque um dos maiores problemas das equipas representativas é a sustentabilidade, a consistência e o apoio dos clubes, ou melhor, a sua falta! Porque é possível atingir um determinado patamar de qualidade, como Portugal já conseguiu, mas é muito dificil ficar por lá, não descer de novo aquela escadaria tão íngreme! Como a base de recrutamento é muito pequena, basta uma pequena dor de barriga de um jogador, para todos termos uma grande dor de cabeça! Para que isso não aconteça, é necessário alargar a base de trabalho que envolve jogadores e técnicos, de uma forma permanente, e obedecendo a um plano de atividades, e à definição clara de objetivos, conseguindo o apoio declarado de clubes e adeptos, e desprezando os comentários idiotas dos que usam a língua apenas para demonstrações de despeito, inveja e de mediocridade. Da minha parte, a nossa seleção tem toda a admiração e consideração, conquistadas pelo esforço, dedicação e muitas alegrias que nos tem proporcionado. Estamos na altura de passar à fase de consolidação do que já foi feito, quer pela separação das seleções de VII e de XV – veja mais abaixo o meu artigo Rugby de XV e Rugby de VII Parte 4 – E agora, que vamos fazer? – quer pela elaboração e divulgação pública de um plano plurianual que alastre a prática da variante a todo o país, garantindo a manutenção dos indices de qualidade que se vão alcançando. E volto a dizer, que o tempo é agora. Mais tarde pode ser tarde demais. Mas vamos falar agora de coisas alegres! Para aqueles que olhavam para o rugby feminino apenas como uma oportunidade de ver umas garotas de pernas ao léu, as nossas Marias deram uma lição e tanto! O 6º lugar conquistado no Campeonato da Europa de Sevens, é uma prova clara que não se pode pensar no desenvolvimento integrado e sustentado dos sevens em Portugal, sem levar o rugby feminino a sério, incluindo-o claramente num projeto de desenvolvimento do jogo reduzido! As garotas deram uma lição de perseverança, espírito de sacrifício e garra, que só nos pode orgulhar. Afinal elas também são Homens do Rugby!

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